A ditadura da dublagem

(29 de jun. de 2015)



Nesse domingo, fui assistir a uma sessão de Divertida Mente, o mais novo sucesso da Pixar que se encontra em cinemas por todo o país. Como já esperava, foi uma sessão inesquecível, repleta de momentos emocionantes e uma trama cativante repleta de personagens bem desenvolvidos.


Mas não foi esse o motivo pelo qual escrevi esse post. A questão é mais embaixo. Fui ver uma sessão no UCI New York City Center as 7:45 da noite desse domingo. Era a única sessão legendada do filme disponível. Quando comprei minha cadeira no Ingresso.com, fiz questão de conferir quantas sessões legendadas haviam disponíveis....


Minha descoberta foi decepcionante: apenas três salas de cinema, e apenas uma sessão legendada naquele dia por sala*.


Repito: três salas de cinema em todo o território do Rio de Janeiro, pelo menos de acordo com o mecanismo de busca do Ingresso.com.


Há algo de errado com essa proporção de mercado. Se isso não é uma falta de respeito com o espectador que procura entretenimento legendado, não sei mais o que qualificaria como tal.



*E ainda por cima, teve de ser uma sessão 3D com uso de óculos obrigatória. Como era a única sessão legendada disponível, tive de aceitar essa condição. Mas o debate quanto ao excesso de cópias 3D pode ficar para outro post....


É claro que sempre que estoura o debate entre filmes dublados e legendados, o estúdio sempre sai com uma nota de teor diplomático tentando explicar sua decisão, geralmente citando motivos pelos quais lançam filmes com uma porcentagem desigual pendendo para as cópias dubladas.


E geralmente eu concordo com os motivos pelos quais eles tomam essa decisão. Vivemos em um mundo em que o espectador não é incentivado a leitura ou ao domínio de outras línguas. Dublagem facilita a passividade de quem vai ao cinema simplesmente a procura de um descanso e simples entretenimento.


E isso não é um fenômeno exclusivamente brasileiro (que tem a questão de classes baixas menos escolarizadas como público-alvo). Se for aos EUA, você perceberá que o povo lá nunca assiste a filmes legendados, preferindo a dublagem norte-americana. Em outros países, como a França ou Espanha, existem movimentos contra a legendagem, não só para proteger a classe de dubladores que existe, mas também visando limitar a influência do produto cultural norte-americano, a fim de preservar sua própria cultura nacional.


Também entendo perfeitamente o porquê de animações terem uma porcentagem infinitamente maior de cópias dubladas. Crianças são um público ainda em fase de aprendizado, e muitas vezes precisam de um auxílio para seguir a trama. Mas, ao mesmo tempo, considero isso um verdadeiro desrespeito para aqueles que são capazes de ler, escrever e entender outra língua desde cedo. Por exemplo, eu, aos sete anos de idade, já assistia a filmes legendados sem nenhum problema.


E tem outra questão a ser abordada: quando o braço distribuidor da Disney resolve lançar um filme da Pixar no Brasil, e resolve fazê-lo numa proporção de 98% de cópias dubladas, isso demonstra uma falta de conhecimento tanto do público-alvo quanto do próprio filme que estão lançando. Filmes da Pixar não são destinados exclusivamente a crianças. Muitos deles possuem nuâncias e complexidades que somente pessoas mais experientes são capazes de captar (e existem crianças igualmente capazes). O próprio Divertida Mente é um exemplo clássico. É um verdadeiro estudo psicológico para pessoas em busca de conteúdo especializado, ao mesmo tempo que mostra personagen que divertem o segmento infantil. Se fosse um filme como Velozes e Furiosos, entenderia completamente a porcentagem superior de cópias dubladas, até pelo estilo de filme sendo exibido e a qual público ele é direcionado. Mas estamos falando de uma produção Pixar, e muitos sabem o nível de inteligência e dedicação que vai em cada uma de suas produções, como já analisei anteriormente.


E o simples fato é que com apenas três salas disponíveis, muitos espectadores que apreciam obras legendadas ficarão com opções limitadas.


E porque ver legendado? Isso tem vários motivos. No meu caso, eu faço questão de assistir qualquer filme da forma como o diretor o concebeu. Isso inclui ouvir as performances verbais dos atores - ou dubladores originais de animações - escolhidos a dedo por esse diretor. A Pixar escolheu Amy Poehler para interpretar a personagem Alegria no filme. Foi um acerto escolherem uma comediante veterana que é conhecida por seu bom humor e que sempre demonstra esse espírito de diversão e alegria em qualquer aparição.


Respeito os dubladores brasileiros, e acho que são profissionais mais do que capazes de dar uma performance distinta que seja igualmente capaz de trazer a mesma vitalidade a esses personagens. Mas no fim das contas, eles não foram a escolha original do diretor.


Considero isso um fator essencial, e não me limito apenas a filmes norte-americanos neste quesito. O filme pode ser francês, japonês, finlandês, italiano, iraquiano, e assim por diante. Sempre irei preferir a obra original.


Será que 99% do público prefere realmente filmes dublados? Não sei dizer. Não tenho a capacidade ou recursos para realizar um censo detalhado que analise isso. Mas também acho que o número de pessoas que deseja filmes legendados com o áudio original supera a marca de 1% com facilidade. A questão é que as distribuidoras não ouvem as opiniões desse segmento. Elas também não estão dispostas a realizar essa pesquisa. Ou se realizam, fazem um péssimo trabalho, porque o resultado é extremamente generalizado e raso; dá para se perceber quando uma pesquisa é feita às pressas.


É óbvio que estúdios almejam ganhar dinheiro. É evidente que filmes dublados sempre contarão com lotação de salas exibidoras. É assim que se banca o cinema. Contudo, acho que reduzir o número de cópias legendadas a esse ponto só causará um efeito: afastará o espectador mais especializado dos cinemas e em direção a pirataria ou mídias alternativas como a Netflix, que disponibilizam ambas as cópias dubladas e legendadas de todos os filmes em seu acervo. É uma questão de dar poder de escolha ao público.


Mas essa questão pode ficar para um futuro post....



Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 10:17  




Rick Baker, vencedor de sete Oscars por seu trabalho em maquiagem e efeitos visuais em inúmeros filmes, anunciou sua aposentadoria aos 64 anos de idade.




Em uma entrevista a rádio norte-americana KPCC, ele explicou o porque: "A hora é agora. Tenho 64 anos de idade e a indústria cinematográfica está 'louca' no momento. Eu gosto de fazer as coisas da maneira certa e eles [os produtores de Hollywood] querem efeitos baratos e rápidos. Isso não é o que eu tenho vontade de fazer, então cheguei a conclusão que é hora de sair".



Como podemos ver, Baker é um artista com 40 anos de carreira numa situação onde seus talentos vem sendo subaproveitados. Desde a revolução digital nos últimos 30 anos que Hollywood vem menosprezando o esforço de designers como ele.


Com os custos exorbitantes de produções blockbusters, fica cada vez mais difícil realizar certos efeitos de forma prática e artesanal. Design e produção de elementos com aspectos minuciosos tais como maquiagem requer tempo e investimento. Ao mesmo tempo, a maioria dos filmes dão início a suas produções com data de estreia já marcada, o que limita muito a todos envolvidos, já que não há espaço para cometer erros ou repensar conceitos no meio do caminho de qualquer etapa de desenvolvimento. Não há como tentar ser espontâneo ou tentar criar do nada. Um artista fica preso a um padrão industrial rígido.


Baker vem da mesma linha de pioneiros como Ray Harryhausen, o designer do King Kong original. A ausência dessa mão de obra faz com que efeitos visuais percam um pouco dessa originalidade e fiquem um pouco mais artificiais, já que estúdios não estão dispostos a arcar com o investimento necessário.


Também não se pode culpar a dependência que Hollywood vem fazendo do uso de computação gráfica. Ambas são formas legítimas de arte e expressão que merecem todo o aprecio e dedicação que se pode dar. Filmes fantasiosos como Star Wars não seriam possíveis se não existisse esse campo digital.


Mas mesmo George Lucas sempre deu valor a talento como Baker (que inclusive trabalhou no filme original de 1977). Já a mentalidade financeira que domina Hollywood não pensa da mesma forma.


E isso é uma falência completa de visão e imaginação. Não faz tanto tempo que vimos o potencial e o primor visual que artistas como ele podem trazer para as telas quando vimos O Senhor dos Anéis nos cinemas. O filme foi todo realizado pela WETA Workshop, uma empresa neo-zelandesa formada por Richard Taylor, que teve todo o tempo do mundo e inúmeros artistas para realizar a visão que Peter Jackson queria adaptar dos livros de Tolkien. Felizmente, a WETA ainda existe e ainda presta serviços para filmes hollywoodianos. A questão é se eles conseguem se adaptar as demandas cronológicas deles.


É óbvio que cronogramas tem de ser respeitados, afinal uma boa produção é feita por profissionalismo e dedicação, e é óbvio que o filme deve ganhar dinheiro, afinal foi-se feito o investimento. Mas tem de se ter paixão e respeito pela forma como artistas trabalham. Tem de se pensar no filme como uma obra que merece ser vista e apreciada, ao invés de feita apenas exclusivamente pensando em franquias e formas de se maximiar o potencial de venda e lucro. Isso apenas reduz o apelo do filme.


Isso leva a pensar até que ponto essa situação pode ser sustentada. Não faz muito tempo que Lucas e Spielberg deram uma palestra falando da forma como o modelo hollywoodiano tinha data de esgotamento definida (e não foi a toa que Lucas vendeu a Lucasfilm logo em seguida).


Seria uma pena se isso se perdesse por completo.



Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 13:13  

Estreias da Semana - 25/06/2015

(25 de jun. de 2015)




Confira as estreias da semana, logo abaixo:



Minions


Passado-se antes dos eventos de Meu Malvado Favorito, a animação mostra as origens dos seres amarelados que tem a missão de servir aos maiores vilões existentes. Após a morte do mestre antigo, Stuart, Kevin e Bob seguem para uma convenção de vilões onde conhecem Scarlett Overkill (Sandra Bullock), que almeja ser a primeira mulher a dominar o mundo.


EUA
Animação / Aventura - 2015
Duração: 90 min.

Direção: Kyle Balda e Pierre Coffin.
Roteiro: Brian Lynch.
Elenco: Sandra Bullock, Jon Hamm, Michael Keaton, Allison Janney, Steve Coogan, Jennifer Saunders, Geoffrey Rush, Steve Carell, Pierre Coffin, Hiroyuki Sanada, dentre outros.


Classificação: Livre.





Muitos Homens num só



Dr. Antônio sempre se hospeda nos melhores hotéis e rouba os pertences dos demais hóspedes. Tudo isso muda quando ele conhece Eva e se apaixona por ela. Eva abriu mão de uma vocação artística para se casar, e agora encontra-se em um relacionamento infeliz.


Brasil
Drama - 2013
Duração: 90 min.

Direção: Mini Kerti
Roteiro: Leandro Assis, Nina Crintzs.
Elenco: Alice Braga, Caio Blat, Luís Carlos Miele, Pedro Brício, Silvio Guindane e Vladimir Brichta.


Classificação: 14 anos.






Jauja


Pai e filha embarcam em uma viagem para um deserto que fica no fim do mundo. Muitos tentaram essa aventura, mas poucos a completaram com sucesso.


Argentina, Dinamarca, França, México, EUA, Brasil, Holanda, Alemanha
Western / Drama - 2014
Duração: 109 min.

Direção: Lisandro Alonso.
Roteiro: Lisandro Alonso.
Elenco: Viggo Mortensen, Ghita Norby, dentre outros.


Classificação: 12 anos.







O Último Poema do Rinoceronte


Preso na revolução islâmica do Irã, o poeta Sahel acaba de sair da cadeia após cumprir uma pena de trinta anos. Agora, ele deseja apenas reecontrar sua esposa Mina, que mudou-se para Turquia há anos
acreditando o marido ter falecido.


Fasle Kargadan
Irã, Iraque, Turquia
Drama - 2012
Duração: 88 min.

Diretor: Bahman Ghobadi
Roteiro: Bahman Ghobadi
Elenco: Behrouz Vossoughi, Monica Bellucci, Caner Cindoruk, Yilmaz Erdogan, dentre outros.


Classificação: 16 anos.




Rainha e País


Devido à Guerra da Coreia, Bill Ronan, com apenas 18 anos, deve cumprir o serviço militar obrigatório durante dois anos num quartel. Ele faz amizade com Percy, um garoto isento de moral ou escrúpulos. Ambos vivem pregando peças nos oficiais superiores, buscando escapar da pior punição: ser enviado para a frente de batalha. Bill também se apaixona por uma mulher mais velha.


Queen and Country
Inglaterra, França, Romênia
Drama - 2014
Duração: 114 min.

Diretor: John Boorman.
Roteiro: John Boorman.
Elenco: Callum Turner, Caleb Landry Jones, David Thewlis, Vanessa Kirby, dentre outros.


Classificação: 14 anos.



Virando a Página


Keith Michaels, que já foi um roteirista de sucesso, passa por sérios problemas financeiros. Amargo, ele aceita dar aulas para universitários. Ao mesmo tempo, ele lida com suas falhas, e a atração que sente pela mãe solteira que é uma das alunas.


The Rewrite
EUA
Comédia / Romance - 2014
Duração: 107 min.

Diretor: Marc Lawrence
Roteiro: Marc Lawrence
Elenco: Hugh Grant, Marisa Tomei, J.K. Simmons, Allison Janney, Chris Elliott, Bella Heathcote, dentre outros.


Classificação: 12 anos.



O Gorila

Afrânio é um sujeito reservado e angustiado por memórias da infância. Ex-dublador com uma voz distinta, e agora incapaz de exercer seu talento, ele encontra um passatempo: ligar para pessoas desconhecidas, geralmente mulheres, e se apresentar como "O Gorila" e acaba desenvolvendo laços com elas.



Brasil
Drama / Suspense - 2011
Duração: 90 min.

Diretor: José Eduardo Belmonte
Roteiro: Cláudia Jouvin.
Elenco: Alessandra Negrini, Eucir de Souza, Otávio Muller, Mariana Ximenes, Milhem Cortaz, dentre outros.


Classificação: 14 anos.



Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 14:18  






Após anos de negociações, a Fox aprovou a continuação de Independence Day, filme-pipoca que foi o maior sucesso de 1996. Com Roland Emmerich novamente na direção, Independence Day: Resurgence, a continuação do filme-desastre que lançou a carreira de Will Smith começa a engrenar, com roteiro já pronto e filmagens sendo agendadas para tudo estar concluído até o verão de 2016, ano em que o primeiro filme completará 20 anos.


Quem lembra de Independence Day irá lembrar de imagens como a nave espacial destruindo a Casa Branca ou o Empire State, mas o que fez o filme dar certo* sem dúvida foi o elenco. Composto por Smith, Judd Hirsch, Bill Pullman, Jeff Goldblum, Randy Quaid, Brent SpinerMary McDonnell, o falecido James Rebhorn, dentre outros, foi a afinidade desses atores (alguns com talento cômico como Hirsch) e seus personagens que fizeram a trama decolar. Fazer um bom filme-pipoca depende desse elemento mais do que qualquer outro. É assim que se conquista a simpatia e respeito do público. Quando você coloca personagens-comuns em uma situação fantástica você estabelece o elemento humano e o fio da narrativa, já que a história tem de ser contada do ponto de vista deles.


*Também vale mencionar a excelente trilha sonora composta por David Arnold, e o inovador design de produção de Patrick Tatopoulos, que trabalhou com Emmerich em Stargate, mas por questão de argumento, iremos manter a discussão no elenco.




Por que estamos falando tanto do elenco? Pelo motivo pelo qual a produção vem sofrendo atrasos. A dificuldade em trazer certos atores de volta. O principal problema sem dúvida foi a recusa de Will Smith em reprisar o papel do Capitão Steven Hiller.


Em 1996, Smith era conhecido apenas pelo seriado Fresh Prince of Bel Air, e o filme Bad Boys. Foi com o sucesso de Independence Day que Smith tornou-se um ícone mundial, e isso o levou a papéis em Homens de Preto, Inimigo do Estado, dando assim início a uma das maiores carreiras já vistas em Hollywood.


Ao mesmo tempo, sabe-se que Smith é uma pessoa difícil de trabalhar. Ele possui a tendência de dar palpites no roteiro de todo filme em que participa. É evidente que após conquistar esse estrelato, Smith ganhou merecidamente essa influência. Tanto que ele possui sua produtora como todo ator de peso. Se ele não tiver o papel de destaque, a situação fica mais complicada*.


*Isso levanta a hipótese de como Smith estaria se portando nas filmagens de Esquadrão Suicida, que é um filme de elenco grande, com destaque para muitos. Fora a foto do elenco que ele postou no Instagram, não sabemos.


Tendo rejeitado a oportunidade de reprisar o papel que o fez famoso deixa Smith com uma imagem de arrogância e estrelismo que vai diretamente contra o tipo de personagens que fizeram dele a pessoa de personalidade simpática a qual o público está acostumado a ver.


O próprio Dean Devlin, roteirista e produtor dos filmes ao lado de Emmerich, considera que essa foi a melhor opção para o filme. Para ele, nunca era a intenção fazer uma continuação se não fosse possível contar uma história que apresentasse algo completamente novo, sem recriar a trama do primeiro filme.




Resta ver o que irá acontecer. De acordo com detalhes revelados, Levinson (personagem de Goldblum) será o diretor da nova agência de defesa espacial humana, que trabalha independente de fronteiras tentando impedir que uma invasão como a do primeiro filme aconteça novamente. Ao mesmo tempo, a trama dará destaque aos filhos de Hiller e do Presidente Whitmore.


E aqui levantamos a segunda bola fora da produção: os papéis dos filhos foram escalados com novos atores.


O personagem Dylan Hiller* será interpretado por Jessie Usher. No primeiro filme, o papel era do então novato Ross Bagley (que havia trabalhado com Smith em Fresh Prince). Nesse caso, Usher tornou-se queridinho das adolescentes nos últimos anos, fazendo participações na TV e no cinema, enquanto que Bagley ficou quase 10 anos longe das telas, reaparecendo recentemente em papéis pequenos.


*Óbviamente colocar Bagley no primeiro filme teve influência de Smith. Se fosse atualmente, não ficaria surpreso se alguém assumisse que ele fosse colocar o próprio Jaden Smith no papel.



A notícia que causou mais estrago para a imagem do filme foi a escolha de uma nova atriz para a personagem Patricia Whitmore, filha do presidente no primeiro filme. Na época, ela foi interpretada pela atriz-mirim Mae Whitman, então com 7 anos. O motivo da revolta é mais do que justo. A personagem será interpretada por Maika Monroe, e supostamente Whitman nem havia entrado para a lista de atrizes para o papel ou teria sido ao menos cogitada por qualquer executivo ou produtor. Além disso, a personagem supostamente teria o romance principal da trama com um novo personagem, que deverá ser interpretado por Liam Hemsworth.


Só que ao contrário de Bagley, Whitman nunca parou de trabalhar. Era é um dos raríssimos casos de atores-mirins que deram certo em Hollywood, sem cair nos vícios ou virar matéria para tablóides. Ela nunca tornou-se uma estrela de tapete vermelho, mas mesmo assim manteve uma carreira firme e forte, fazendo diversos papéis em séries e filmes, incluindo Arrested Development e a mais recente versão de Parenthood, além de diversos papéis de dublagem e animações desde a infância.


Ao contrário de muitos atores, Whitman com seus 26 anos de idade mostra sabedoria e competência que muitas atrizes nem sonhariam em ter. Só que fisicamente, ela nunca entrou no padrão de beleza considerado adequado para papéis em blockbusters de porte.


Então pelo fato de sua personagem estar envolvida em um romance com um personagem interpretado por um dos queridinhos de Hollywood, isso significaria que ela não possui o físico necessário para dividir as cenas com Hemsworth? Os executivos acham que o público rejeitaria um romance tão fora do padrão assim?


Isso é nada mais do que uma falta de respeito demonstrada pelos diveros altos escalões de Hollywood, e ainda por cima numa época em que luta-se mais do que nunca para abolir essa forma de discriminação. Atrizes que não possuem o peso ou a idade consideradas "ideais" merecem mais respeito do que isso.



Isso gerou um clima de revolta e indignação mais do que merecidos. Anna Kendrick, que trabalhou com Whitman na comédia The DUFF, foi a primeira a expressar isso via Twitter.


Entendemos que as vezes não é possível colocar o mesmo ator no papel. Existem inúmeros fatores que contribuem para tais mudanças, e as vezes um novo ator pode trazer algo de diferente para o papel. Um problema é que isso quebra a sensação de realidade orgânica criada dentro da ficção. O espectador percebe se o papel foi tomado por outro ator subitamente (quem viu Game of Thrones recentemente sabe do que estou falando) e percebe as imperfeições na confecção da obra audiovisual.


Mas também desejamos o melhor dos mundos para Monroe e Usher, que são jovens atores com enorme talento e potencial, mais do que capazes de levar seus papéis adiante.


Independence Day: Resurgence estreia em 24 de junho de 2016.



Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 13:32  

James Horner (1953-2015)

(23 de jun. de 2015)




Morreu em um acidente aéreo nesta segunda-feira o compositor James Horner. Ele tinha 61 anos.


Formado em estilo clássico, Horner ficou compôs a trilha sonora de mais de 150 filmes desde o final da década de 1970, e muitos desses clássicos são lembrados até hoje, tais como Cocoon, 48 Horas, 48 Horas - Parte 2, Fievel - Um Conto Americano, O Milagre veio do Espaço, Willow, Querida Encolhi as Crianças, Campo dos SonhosJogos Patrióticos, Perigo Real e Imediato, Jumanji, Mar em Fúria, Casa de Areia e NévoaO Menino do Pijama Listrado e O Espetacular Homem-Aranha, dentre muitos outros.



Após trabalhar em filmes de Roger Corman, o primeiro grande trabalho de Horner foi em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan. De acordo com o diretor Nicholas Meyer, o orçamento do filme era tão baixo (cerca de 10 milhões de dólares) que eles não tinham como bancar o cachê* de um compositor como Jerry Goldsmith (que havia composto o primeiro filme de Jornada; também já falecido). Horner surgiu como uma alternativa viável, no fato de que ele tinha o treinamento e a capacidade de criar uma trilha sonora que transmitisse uma atmosfera naval e grandiosa, mas ao mesmo tempo diferente do trabalho que Goldsmith havia feito com a franquia até então. Horner adaptou os temas originais de Alexander Courage e fez um trabalho tão aclamado que Leonard Nimoy o convidou para compor Jornada nas Estrelas III.


*UPDATE: Ironicamente, quando Meyer foi dirigir Jornada VI, Horner era sua primeira escolha para compor o filme, mas ele havia tornado-se caro demais para a produção (e a Paramount estava tentando controlar os custos). Isso forçou Meyer a procurar o novato Cliff Eidelman.



O domínio de orquestra, melodia e ritmo que Horner tinha ia além das expectativas. Ao mesmo tempo, ter esse domínio e ter o talento necessário de criar obras originais, capazes de gerar um contexto emocional em cada filme, mostra que Horner e seu trabalho foram essenciais para cada uma dessas produções.






Mais tarde, Horner compôs a trilha de Aliens - O Resgate. Esse foi o início da parceria entre ele e o diretor James Cameron. Ele voltaria a compor para Cameron em Titanic e Avatar. Foi com seu trabalho em Titanic que Horner levou dois Oscars para casa, um pela trilha sonora do filme e outro por ter composto a canção My Heart will go on, que foi cantada por Celline Dion.




Talvez o maior trunfo de sua carreira foi ter conhecido Mel Gibson. Ao assumir a trilha de Coração Valente, Horner tomou como inspiração músicas folclóricas escocesas e irlandesas, e criou seu trabalho mais impactante. Mais do que qualquer elemento do filme, ao discutir o impacto de Coração Valente, não dá para deixar a música de lado. Ela é o filme. Foi uma obra-prima que merecia ter levado o Oscar. Quando você assiste ao filme e relembra a cena em que William Wallace grita por liberdade a beira da morte, você lembra de imediato a melodia de Horner, trazendo todas aquelas emoções à tona.




De qualquer forma, o sucesso do filme e da trilha levaram Gibson a colaborar com Horner novamente em Apocalypto.



Horner, já o preferido de James Cameron e Mel Gibson também ganhou outro diretor colaborador: Ron Howard. Após seu trabalho tanto em Willow quanto em Apollo 13, Howard o colocou no comando da trilha sonora de Uma Mente Brilhante. A trilha inicial deste filme ('O Caleidoscópio da Matemática') é tão bem construída que lembra uma dança e acaba pintando um retrato da mente de John Nash.


Ao trilhar o caminho entre momentos grandiosos e emoções íntimas, Horner mostrava uma versatilidade que poucos compositores tinham.



Mas como qualquer pessoa, Horner não era perfeito ou ausente de falhas. Ao analisar a trilha de Jornada nas Estrelas III, pode se perceber o início de uma tendência que o compositor teria ao longo de sua carreira: reciclar trilhas. Boa parte da trilha do filme foi composta de sequências compostas pro filme anterior.


Ao mesmo tempo, essa tendência pode ser vista em outras produções. A trilha principal de Comando para Matar usa uma passagem ritmica idêntica baseada em outra trilha que ele compôs para 48 Horas. A mesma passagem foi reutilizada em O Dossiê Pelicano e também Perigo Real e Imediato. A abertura de Mar em Fúria também possui semelhanças com boa parte da trilha do filme sobre Jack Ryan.


Além disso, muitos na comunidade musical inclusive acusaram Horner de plágio direto em várias de suas trilhas. Uma das cenas de O Milagre veio do Espaço utiliza um trecho musical que alguns alegam ter sido utilizado numa versão musical de Cinderela, e que teria sido composto por Sergei Prokofiev. Outro caso parecido mais conhecido foi o da trilha principal de Coração Valente, que possui o mesmo tom e ritmo dessa trilha composta pela banda instrumental japonesa S.E.N.S.:





Independente das questões morais e éticas quanto ao uso de música em um filme, certamente entendemos o desafio que é para Horner ter de criar composições distintas para tantas produções no ritmo que sempre escreveu. Não existe tarefa mais difícil do que manter a originalidade e se superar dia após dia. O simples fato de Horner ter sido capaz de criar tantas obras originais já fala por si só. Ele ter pego emprestado obras de outros autores pode ser visto como uma admiração do próprio compositor pelo trabalho dos outros.


E a mais simples verdade é que nenhum compositor é inocente dessa prática. Todos que tiveram uma carreira deste porte chegaram a fazê-lo em alguma época. Hans Zimmer o faz sempre*. Uma questão que fica em aberto é o fato de que reconhecer a música de outra obra pode denegrir a identidade do filme que você está assistindo. Em casos como Jornada, dá para entender, já que trata-se do mesmo universo com os mesmos temas. O problema é quando se descobre que a melodia de Coração Valente tem uma origem completamente alienada do mundo que Gibson criou.


* Vale lembrar que Zimmer usou as trilhas criadas por Klaus Badelt para as sequências de Piratas do Caribe, e ninguém foi capaz de colocar Badelt nos créditos dos filmes pela obra original.


Dois filmes compostos por Horner ainda estrearão nos cinemas. Southpaw, drama de boxe estrelado por Jake Gylenhaal e Rachel McAdams, e The 33, filme baseado no desastre da mina no Chile, que tem Rodrigo Santoro no elenco.



Horner fará falta. Sãos poucos os filmes atuais que dedicam o tempo necessário para criar uma trilha marcante. Espera-se que não se menospreze os esforços de compositores que amam aquilo que fazem. Essa paixão existe porque houve pessoas como Horner, dedicadas a criar e inspirar todos aqueles que buscam explorar essas emoções. Assistir a um filme é uma experiência emocional, e dentro do contexto audiovisual, o poder que a trilha dá às imagens é inestimável. Não é a toa que os fãs de Star Wars lembram de música de John Williams. Ao mesmo tempo que é a trilha é a identidade do universo de Star Wars, ela também representa as sensibilidades de alguém como Williams.


É o mesmo caso com Horner. Deve-se preservar o trabalho deles, e sempre incentivar novos talentos a seguir o mesmo caminho para que obras como essa jamais sejam esquecidas.









Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 13:05  

Tubarão (1975-2015)

(22 de jun. de 2015)




Tubarão faz 40 anos de idade nesta semana. O pai do cinema blockbuster, dirigido por Steven Spielberg, foi lançado em 20 de junho de 1975.


Vamos dar uma conferida neste clássico, relembrando alguns de seus melhores momentos e revelando algumas curiosidades de sua produção:



- No verão de 1975, quando o filme foi lançado, ele foi visto por 67 milhões de pessoas apenas nos EUA. A bilheteria ultrapassou a barreira dos 100 milhões de dólares, e manteria esse recorde por dois anos até a estreia de Guerra nas Estrelas, em 1977.


- Spielberg procurou filmar sempre que possível mirando a câmera no mesmo nível que o mar, criando uma sensação de tensão e claustrofobia no público. Cerca de 25% das cenas do filme, incluindo a maioria das cenas no barco foram filmadas com esse ângulo. E houve uso intenso de câmeras seguradas a mão, a fim de conter as marolas e ondas.


- Spielberg não era o diretor original da produção. O diretor original (cuja identidade jamais foi revelada) foi despedido pela Universal após uma reunião com os executivos onde ele sugeriu uma tomada elaborada que introduzisse a baleia. Ao cometer essa gafe, um dos executivos disse que não trabalharia com um diretor que não soubesse a diferença entre uma baleia e um tubarão, e que essa produção não era Moby Dick.


- Spielberg rejeitou a escolha de Charlton Heston para o papel de Brody (que foi para Roy Scheider). A justificativa do diretor foi a de que Heston havia tornado-se referência do personagem heróico que sempre salva o mundo (como ocorrera em Terremoto, de 1974). Caso ele fosse parte da trama, o público não acreditaria que ele pudesse ser vítima do tubarão. Supostamente, Heston não aceitou a rejeição bem, a ponto de fazer comentários negativos a respeito de Spielberg, e também rejeitou a oportunidade de interpretar o personagem do General Stillwell em 1941.


- O cachorro de Brody no filme era o cachorro de Spielberg.


- Existia uma teoria de que o filme não continha nenhum elemento de cor vermelha em qualquer cena, com exceção do sangue das vítimas e do tubarão. Contudo, a teoria nunca teve fundamento, já que há diversas cenas no filme que contém bandeiras norte-americanas, latas de coca-cola, chapéus, dentre outros objetos de cena.




- Como muitos sabem, o tubarão mecânico criado para a produção foi fonte de inúmeros problemas durante as filmagens. Quando o tubarão foi montado, eles o colocaram nas águas de Martha's Vineyard, sem jamais tê-lo testado. O resultado foi que ele despencou direto para o fundo do mar. Pelo fato dele estar quebrado, ele não estava disponível para diversas tomadas, e Spielberg não tinha como adiar essas tomadas devido ao tempo limitado de filmagem que tinha.



- Ao mesmo tempo, muitos tinham a opinião de que o tubarão não era realista o suficiente para aparecer no filme. Spielberg e a montadora Verna Fields editaram o filme de tal forma que o público veria pouquíssimas tomadas com o tubarão, de forma a esconder suas imperfeições. Além disso, a ausência do tubarão criou um nível extra de suspense que funcionou de forma perfeita ao lado da trilha sonora de John Williams.


- Os problemas do tubarão mecânico também inspiraram Spielberg a adotar uma solução bastante criativa: filmar o ponto de vista do animal. Dessa forma, saberíamos o que ele estava fazendo sem precisar mostrar o modelo, e colocando o público no ponto de vista do vilão.



- O tubarão mecânico recebeu um apelido carinhoso da equipe: Bruce. Uma das versões, a de corpo inteiro, faz tour por museus ao redor do mundo. Já o segundo Bruce tornou-se parte da atração Tubarão no parque de diversões da Universal.






- O filme foi baseado no livro de Peter Benchley, cujos direitos de adaptação foram adquiridos pelos produtores Richard Zanuck e David Brown por 175 mil dólares. Benchley inclusive pode escrever as primeiras versões do roteiro. Todas foram rejeitadas por Spielberg, que as reescreveu com Carl Gottlieb.


- A princípio, Richard Dreyfuss havia recusado o papel de Hooper, mas voltou atrás em sua decisão quando viu as primeiras impressões de O Grande Vigarista, que para ele foram negativas. Sua recisão o levou a colaborar com Spielberg em contatos imediatos em seguida.


- Um acidente no set fez com que o tubarão afundasse. Enquanto Spielberg dava ordens para resgatar os atores da água, a câmera afundou. Os negativos tiveram de ser transportados para um laboratório de película em Nova York. Eles foram capazes de salvar as cenas filmadas.


- O motivo pelo qual Martha's Vineyard foi escolhido como palco de filmagens foi pelo fato da água ser rasa. Mesmo longe da costa, o fundo do mar não passava dos 15 metros de profundidade, o que facilitava as filmagens.

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O Diferencial da Pixar

(19 de jun. de 2015)




Divertida Mente conta a história de Riley, uma menina de 11 anos que sofre com a mudança que seus pais estão fazendo para outra cidade. Contudo, o filme explora o interior de seu cérebro, onde vemos constante conflito entre as diferentes emoções: alegria, medo, raiva, nojo e tristeza, até que a alegria e a tristeza acidentalmente são ejetadas para fora da sala de controle cerebral e precisam navegar o cortex para retomar seu lugar ao lado das outras emoções. O filme, que é a mais nova produção da Pixar, vem fazendo bastante sucesso no Festival de Cannes.

E com o filme prestes a estrear nos cinemas, essa é uma boa hora para rever o histórico desse estúdio.





Como alguns já sabem, a Pixar teve seu início na década de 1980 quando Steve Jobs comprou a companhia de computação gráfica das mãos de George Lucas e a batizou com o famoso nome. A idéia de generar animação via computação era vista como uma nova fronteira a ser conquistada. Contudo, o fato da Pixar ser a pioneira nesse ramo não foi seu único diferencial. Qualquer estúdio dedicado e bem financiado poderia produzir animações em computação, como foi o caso da DreamWorks Animation e do Blue Sky Studios, dentre outros. A Pixar não se contentaria com tão pouco...




Por ter firmado parceria com a Disney, e contratado animadores como John Lasseter, Pete Docter e Andrew Stanton, a Pixar procurava contar histórias que ninguém jamais poderia imaginar, levando o potencial narrativo da animação ao seu nível máximo.


Foi assim que surgiu Toy Story. Baseando-se nos brinquedos da própria infância, Lasseter, Docter e Stanton foram capazes de explorar território desconhecido ao contar uma simples história de abandono e inveja. Só que a história estava sendo contada do ponto de vista dos brinquedos, mais especificamente de Woody (Tom Hanks), que sentia-se privilegiado por ser o brinquedo favorito de Andy. A partir dali, a Pixar foi capaz de se diferenciar narrativamente, contando histórias inusitadas e carregadas de emoção, formando uma conexão forte com seu público.




Não contente em dedicar animações apenas para o público abaixo dos 10 anos, as tramas desses filmes sempre almejaram explorar temas universais que atingem a todos, sejam eles crianças, adultos ou idosos de todas as idades. Um dos trunfos da Pixar sempre foi a de conseguir reacender nossa curiosidade infantil.





Talvez o fato mais surpreendente deste estúdio tem sido sua habilidade de produzir continuações que superem a obra original. Geralmente, a regra em Hollywood (e ocasionalmente na Disney) é de produzir mais do mesmo, sem assumir riscos desnecessários, suprindo as expectativas do público. Ao criar Toy Story 2 e 3, Lasseter e sua equipe de animadores e contadores de histórias foram além do esperado e exploraram novos lados de Woody e Buzz, mostrando principalmente o crescimento de Andy e o eventual abandono da parte mais visível de sua infância: seus brinquedos. Podiam ter contado uma história mais simples, sem grandes conflitos e aproveitando-se do humor visual com os brinquedos. Não era o suficiente para as ambições dessa equipe. O fato de ter tido uma espera de 15 anos entre o primeiro e terceiro filmes mostra esse compromisso. Era necessário tempo para achar a história certa a ser contada e elaborar um roteiro que agradasse a essa equipe.




E vale lembrar que essa dedicação não começou com Toy Story. Logo após a fundação do estúdio na década de 1980, os animadores se especializaram em curta-metragens. Foram esses curtas que pouco a pouco foram convencendo a Disney a arriscar tudo em um longa.



Muito também se fala do ambiente de trabalho dentro da Pixar. Estúdios de animação, assim como cinema live-action, operam em ritmo industrial, com muito trabalho e pouco espaço para fugir dessa maré de repetição. Isso não significa que a Pixar seja uma companhia improdutiva e incapaz. Muito pelo contrário, diversas histórias já foram rejeitadas por não atingirem o padrão desejado e animadores foram passados para outros projetos. Mas é considerado um dos melhores lugares para se trabalhar no mundo. Pete Docter mesmo disse que sempre sentiu-se privilegiado de poder cometer erros e corrigí-los sem sofrer com isso, como foi o caso de Divertida Mente, cuja data de estreia foi adiada por problemas de roteiro.



Toy Story pode ter sido o carro-chefe, mas a Pixar foi capaz de expandir seu acervo narrativo muito além desse ponto. Houve Vida de Inseto que por coincidência teve de dividir seu espaço com outro filme sobre insetos na mesma época, Formiginhaz da DreamWorks Animation. Essa foi a oportunidade para a Pixar mostrar uma trama parecida e ao mesmo tempo diferenciada.

Todavia, foi com Monstros S.A., em 2001, que o estúdio lançou um filme com a mesma ambição e criatividade que teve com o primeiro Toy Story. Ao explorar os medos básicos de bicho-papão que toda criança sente ao dormir numa cama sozinha no escuro, Stanton e Docter conseguiram criar um mundo inusitado onde os monstros operam em linha de montagem industrial com acesso a cada porta de quarto de criança no mundo todo.



Desde então, a Pixar opera com níveis variados de sucesso, seja em filmes criativos e abrangentes como Procurando Nemo ou filmes mais convencionais tais como Valente.



Um filme que também marcou profundamente a reputação da Pixar de forma positiva foi Os Incríveis. Dirigido pelo veterano Brad Bird, a trama de super-heróis aposentados já existia em sua mente antes mesmo de ser adotada pelo estúdio. Foi com essa nova obra que a Pixar começou a sair do lugar-comum e tornar-se um estúdio mais versátil.




Desde o sucesso de Toy Story que se debate até que ponto a Pixar pode ser capaz de chegar com suas histórias. A resposta veio em 2008 com WALL-E. O filme de Andrew Stanton foi o mais próximo possível que uma animação chegou de colocar o espectador numa experiência única similar a de clássicos como 2001: Uma Odisséia no Espaço. Stanton contou uma história de amor intergalática num futuro distópico com pouquíssimos diálogos e uma trilha sonora cativante composta por Thomas Newman.




A Pixar seguiu de imediato lançando UP - Altas Aventuras, filme de Pete Docter em 2009, que abordou a questão da velhice e temas de arrependimento e amor ao próximo. Com isso, muitos chegaram a conclusão de que a Pixar atingiu seu ápice.



Desde então, o estúdio tem tentado manter o público abastecido lançando pelo menos um filme por ano, o que levou eles a explorarem algumas continuações a mais de outros filmes tais como o antecessor de Monstros S.A. (Universidade Monstros). Isso levou alguns críticos e especialistas a ponderarem se o estúdio teria finalmente se rendido ao mal da fórmula hollywoodiana, indo ao poço das continuações, remakes e reboots.

Notícias como a decisão executiva de retirar Brenda Chapman da direção de Valente também tiveram repercussão negativa para a empresa. Com depoimentos de ex-animadores como Chapman, que faziam depoimentos negativos sobre a conduta de Lasseter como líder criativo do estúdio, causaram as primeiras feridas na imagem até então impecável da Pixar. Ao mesmo tempo, a necessidade de adiar Divertida Mente deixou 2014 como o primeiro ano desde 2005 sem uma estreia do estúdio.



Será que a Pixar estaria passando por uma crise criativa?


A recepção aclamada de Divertida Mente indica que não é o caso. O filme está sendo considerado o mais autoral e ambicioso do estúdio desde UP, com fortes críticas positivas e altíssima presença de público.





De qualquer forma, não dá para negar a influência que a Pixar teve. Mesmo não tendo as mesmas ambições narrativas ou a mesma criatividade, estúdios como DreamWorks e Blue Sky existem e operam em ritmo constante com novas produções porque ela trilhou o caminho inicial. O boom de animação computadorizada foi possível graças a essa história.


Existe também o dilema de que o sucesso desses filmes possam ter dizimado as chances de sucesso para animações tradicionais desenhadas a mão. Acreditamos que ainda haja espaço para ambos os tipos de animação conviverem lado a lado, mas esta é uma questão para outro post.

Enquanto isso, confira abaixo o trailer de Divertida Mente.







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Relembrando Jurassic Park

(18 de jun. de 2015)




Faz 22 anos que chegou aos cinemas Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros. Clássico dirigido por Steven Spielberg, o filme foi um divisor de águas ao mostrar dinossauros com realismo inédito para o público. Não se via um salto tecnológico deste nível desde o primeiro Star Wars de 1977.

Com Jurassic World chegando aos cinemas neste mês de junho, é uma boa hora para rever os filmes que marcaram essa série.


Jurassic Park começou no final da década de 1980 com o romance original escrito e publicado pelo autor Michael Crichton. Conhecido por suspenses guiados por uma narrativa de lições científicas, Crichton apropriou-se da idéia de recriar espécies extintas há 65 milhões de anos através da redescoberta do DNA original deles. Assim, nasceu Jurassic Park, história que levantou questões sérias a respeito da responsabilidade humana de brincar de Deus ao tentar recriar o passado, contrariando as leis da natureza. O livro foi um sucesso de vendas e garantiu uma continuação literária, O Mundo Perdido, lançado em 1995.


Spielberg descobriu Jurassic Park durante uma reunião que teve com Michael Crichton, que então tentava vender seu roteiro-piloto para o seriado ER (que levou mais alguns anos até ser produzido). Quando Spielberg perguntou no que Crichton estava trabalhando, ele mencionou a sinopse de Jurassic Park, o que imediatemente mudou o rumo da conversa. Não havia pessoa melhor para adaptar esse trabalho do que Spielberg. Conhecido por clássicos como E.T. e Contatos Imediatos (além do espirito aventureiro de Indiana Jones), ele procurou abrir espaço em sua agenda para assumir a adaptação, tendo de conciliá-la com Hook - A Volta do Capitão Gancho, e A Lista de Schindler.

O grande desafio de adaptação seria a capacidade de criar dinossauros com a tecnologia daquele momento. Até então, filmes com dinossauros não eram vistos como obras-primas de teor visual. Eram produções baratas e com a tecnologia primitiva demais para mostrá-los com a escala necessária. No fim das contas, foi necessário o surgimento da Industrial Light & Magic de George Lucas, e seu trabalho pioneiro na trilogia Star Wars e inúmeras outras produções nos anos 80 para que ganhassem a experiência necessária. Também era necessário que a tecnologia evoluísse a esse mesmo ponto. Com artistas como Stan Winston e Phil Tippett, eles foram capazes de realizar a visão que Spielberg tinha.



Mas construir dinossauros não era o suficiente. Haviam cenas em que precisava-se de movimento e escala. Colocar 20 dinossauros no mesmo frame era inviável. Foi aí que entrou a computação gráfica, tecnologia evolução há mais de dez anos desde que testaram a sequência Gênesis em Jornada nas Estrelas II feita toda por computador. Foi com essas máquinas e essa nova tendência artística digital que tornou-se possível realizar essa ambição visual.

Conseguir sucesso de público no cinema depende muito da faixa etária que você atinge. Assim como Star Wars, o grande sucesso de Jurassic Park foi conseguir a atenção do público infantil. Além da forte campanha publicitária, era uma época em que dinossauros estavam na moda. A própria presença de personagem mirins como Lex e Tim na trama dão a esse público a chance de ter um ponto de vista parecido. Claro que seguindo o padrão Spielberg, o filme possui dois ou três momentos aterrorizantes capazes de traumatizar qualquer espectador abaixo de uma certa idade. Assim como Bambi perdia sua mãe, Jurassic Park não seria o que é se não mostrasse algumas pessoas sendo atacadas pelos bichos, mesmo não sendo filmado de forma sangrenta. E também não seria uma história impactante se não tivesse a vida dos personagens em jogo.


Era inevitável que viesse a continuação. Contudo, Spielberg levou mais quatro anos para fazer O Mundo Perdido pelo fato dele ter tido de lançar A Lista de Schindler, desenvolver o longa Amistad, e ainda estar ocupado lançando um novo estúdio: a DreamWorks.



O Mundo Perdido foi talvez a primeira grande decepção vinda de Spielberg. O filme, ao invés de seguir mais de perto a trama do livro, preferiu seguir outro caminho. A ausência de personagens como Grant e Ellie foi sentida, e a elevação de Ian Malcolm a protagonista da trama foi um dos aspectos do livro que não foi bem adaptado para as telonas. Percebe-se que a trama depende desmasiadamente de personagens cometendo erros que nenhuma pessoa sensata jamais cometeria, e os momentos de tensão são quebrados de forma artificial por alívios cômicos que quase nunca funcionam. O filme foi um sucesso de bilheteria, mas mal visto pela crítica. 1997 foi um ano marcado por decepções similares.



De qualquer forma, a Universal e a Amblin tinham uma mina de ouro a ser explorada. Jurassic Park III começou a ser concebido, só que desta vez Spielberg operaria apenas como produtor executivo. Quem assumiu a direção foi Joe Johnston, diretor de arte de efeitos visuais da ILM que havia começado sua carreira em Star Wars. Já tendo dirigido Jumanji (1996), foi provavelmente a escolha mais sensata para assumir o projeto.

O problema era em acertar o roteiro. Foram necessárias dezenas de versões. E uma das obrigações era ter Grant, o personagem de Sam Neill, de volta como protagonista.


No fim das contas, o filme teve um sucesso moderado de público em 2001. Não foi a mesma decepção que o filme anterior, mas existe o consenso de que foi uma continuação-padrão, contente em retomar elementos narrativos já estabelecidos na série, sem inovar ou tentar novos rumos. Mesmo a mão talentosa de Alexander Payne (Nebraska) no roteiro foi incapaz de elevar a dinâmica entre os personagens devido a previsibilidade da trama.



Assim, a Universal engavetou futuras continuações até que se tivesse uma história melhor e que se livrasse dos erros cometidos no passado. Spielberg veio com uma possível idéia, e várias versões de roteiro vieram nos anos seguintes, incluindo uma que traria de volta Lex, a personagem de Ariana Richards nos primeiros filmes. Contudo, nenhuma delas foi adiante. Supostamente nenhuma das versões dos roteiros agradavam Spielberg, ao perceber que nenhuma delas equilibrava a ciência com a aventura. Com o tempo os produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy se afastaram da possibilidade de que isso fosse realmente se concretizar, e com a morte de Michael Crichton em 2008, parecia cada vez mais distante a possibilidade de alguém se interessar neste universo novamente...


Isso tudo mudou em 2011.


Com o sucesso inesperado de Planeta dos Macacos: A Origem, seus dois roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver tornaram-se o casal mais cobiçado e demandado em Hollywood. Logo a Universal os procurou para ajudar a desenvolver o novo Jurassic Park. Com Colin Trevorrow assumindo a direção, todos os envolvidos começaram a se entender, eventualmente atingindo consenso. E isso poderia fácilmente ter dado errado, levando em conta o risco de colocar diretores independentes no comando de blockbusters. Felizmente, ao contrário de diretores como Marc Forster (Quantum of Solace), Trevorrow que tinha feito apenas o independente, mas excelente Sem Segurança Nenhuma, foi mais do que capaz de assumir um filme deste tamanho, mexendo no roteiro e contribuindo com sua visão para ampliar e diversificar o universo criado por Spielberg e Crichton.

E assim o projeto finalmente emplacou.




Como vimos nos trailers recentes, o filme mostra uma evolução natural dos eventos que se passaram. Com o parque oficialmente aberto e funcionando, nós como público agora podemos nos colocar nos pés desses turistas, criando-se uma situação inusitada. Esse era o rumo que o terceiro filme deveria ter tomado.

Agora resta sentar e ver o que o futuro nos aguarda...




Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 13:38  



Como teria sido De Volta para o Futuro caso Michael J. Fox não tivesse encarnado o papel principal de Marty McFly? Difícil dizer, mas posso afirmar que essa situação quase ocorreu de verdade.

Durante quatro semanas de filmagens, Eric Stoltz foi o ator principal do filme.



Isso geralmente é um problema recorrente em 90% dos filmes produzidos em escala industrial. Quando atores encontram-se em demanda, com múltiplas filmagens agendadas, fica difícil para os estúdios organizarem seus cronogramas. Não é novidade nenhuma que muitas das vezes, os diretores tem de abrir mão de um ator que desejavam para um papel, e o público deixa de ver o que o filme poderia ter sido*.


De qualquer forma, mesmo Fox sendo a escolha original do produtor Steven Spielberg e do roteirista/diretor Robert Zemeckis para viver o papel de McFly, seu papel de destaque no seriado Family Ties** o impedia de participar do filme. E hoje nós no Cinema Total fazemos questão de dar uma conferida nesse evento analisando os fatos e imaginando o que poderia ter acontecido.


*As vezes, isso pode ser visto de forma positiva. Por exemplo, Leonardo DiCaprio era a escolha original de Tarantino para encarnar Landa em Bastardos Inglórios antes de Christopher Waltz assumir o papel. Imagina o filme agora?

**No Brasil, a comédia televisiva que lançou Fox ao estrelato era também conhecida como Caras & Caretas.


Tanto Stoltz quanto Fox nasceram em 1961, tendo praticamente a mesma idade e perfis parecidos. Ambos tinham carreira de sucesso na televisão, e eram capazes de transitar entre o cômico e o dramático.


Contudo, quando Spielberg voltou de uma viagem ao exterior, ele viu as cenas filmadas com Stoltz junto a Zemeckis, e ambos sentaram com o roteirista/produtor Bob Gale onde então decidiu-se que mesmo Stoltz sendo um ator talentoso, ele simplesmente não estava dando certo no papel de McFly.

Stoltz havia interpretado o papel de forma bastante séria, e a visão que Zemeckis, Gale e Spielberg tinham era bem mais leve e livre de emoções desmasiadamente complexas ou negativas. Era para ser uma história fantasiosa de tons cômicos destinada a divertir públicos de todas as idades, seguindo aquele padrão bem conhecido de blockbusters da década de 1980***.


***Sem dúvida o filme mais emblemático dessa linha de filmes foi Os Goonies, da mesma época, e também produzido por Spielberg.


O desafio seguinte era conseguir a escolha original deles de volta. Fox ainda estava ocupado com Family Ties. Mesmo assim, o ator acertou um compromisso com todos os produtores de forma que ele filmaria Family Ties**** durante os dias de semana enquanto filmava De Volta para o Futuro durante a noite. Ele filmaria as cenas diurnas do filme durante o fim de semana. Foi possível encaixar ambos os trabalhos, apesar do ritmo deixá-lo com apenas duas horas de sono disponíveis durante as filmagens.


****Um dos motivos pelo qual a produção de Family Ties não permitia que Fox reduzisse sua presença no seriado era pelo fato da atriz principal Meredith Baxter-Birney estar grávida na mesma época, e tanto ela quanto Fox eram os queridinhos do público.



O outro desafio que Zemeckis teve após conseguir Fox foi o de convencer os executivos da Universal Studios a refilmar todas as cenas que já havia filmado com Stoltz. Isso custaria tempo e dinheiro. Foi uma batalha a ser vencida, e Zemeckis era jovem e persistente o suficiente para vender sua visão ao pessoal do estúdio. E assim foi-se adiante....


O mais interessante é que há pelo menos uma cena em que Stoltz permanece no filme. Quando Marty dirige o DeLorean fugindo dos Líbios no estacionamento do shopping center, é Stoltz que dirige em diversas tomadas, mas devido a distância da câmera, é impossível distinguir o ator.



Abaixo, uma lista de algumas cenas que foram filmadas com Stoltz e refilmadas com Fox:

1. A primeira cena filmada no filme foi a do atropelamento de Marty pelo pai de Lorraine, e havia sido filmada com Stoltz.

2. A cena em que Doc Brown "lia" a mente de Marty foi filmada com Stoltz.

3. A cena mais impactante entre Doc e Marty, que discute a importância da carta a ser aberta em 1985, também foi filmada com Stoltz, e provavelmente foi a cena que convenceu Zemeckis a abrir mão do ator.

4. A cena em que Marty explica a George o plano para ele vencer o coração de Lorraine.


As cenas de 1985 ainda não haviam sido filmadas quando Stoltz foi trocado por Fox.


Teve também uma cena filmada com Stoltz que não foi refilmada com Fox e acabou sendo cortada do filme. Era uma cena na qual Marty era posto em detenção pelo diretor Strickland no colégio e tinha de escapar a tempo usando um alarme de incêndio.


Um fato que também contribuiu para a troca de atores foi a altura de Stoltz. Mais alto que Fox, sua estatura não criava tanto contraste com atores altos como Thomas F. Wilson***** e Christopher Lloyd. Isso faria que as cenas de briga entre Marty e Biff não tivessem o mesmo impacto estilo Davi contra Golias, que era a intenção original do roteiro.


*****Curiosamente, Wilson não foi o primeiro no papel de Biff. Ele originalmente era de J.J. Cohen, que não era tão alto. Cohen acabou ficando com o papel de Skinhead, um dos capangas de Biff.


Essa é uma compliação de várias cenas de Stoltz como Marty no filme:





Sem dúvida que Stoltz é um excelente ator com um currículo versátil e extenso. Mas ao mesmo tempo, hoje podemos ver que De Volta para o Futuro teria sido uma obra bastante diferente caso fosse estrelada por ele, e talvez até não tivesse tido o mesmo sucesso. McFly é o protagonista da história e sua empatia com o público depende do tom cômico e do carisma do ator. Fox encaixa-se de forma bem mais natural no papel, tendo excelente afinidade com Crispin Glover, Lea Thompson e principalmente Lloyd, tornando-se um personagem orgânico desse mundo fictício e divertido.

Até mesmo seu papel do filho conservador em Family Ties mostra essa capacidade do ator. Em teoria, um personagem desses deveria ser intragável, mas Fox fez dele o preferido do público e não foi à toa.


E por ironia esta não seria a única vez em que De Volta para o Futuro enfrentaria uma situação de troca de atores num dos papéis principais. No segundo filme, em 1989, Crispin Glover acabou não reprisando o papel de George McFly após ter um pedido de aumento salarial rejeitado. Jeffrey Weissman acabou assumindo o papel, usando uma máscara que imitava o rosto de Glover em algumas cenas. Isso também inspirou Gale e Zemeckis e matarem o personagem, criando o 1985 alternativo como parte da trama do filme.


Infelizmente, são poucas as cenas de Stoltz que podem ser encontradas online, até porque foi uma decisão mútua de Zemeckis e Gale em não deixá-las circularem. Do ponto de vista deles, a performance de Stoltz nessas cenas mancharia sua imagem e atrapalharia seu trabalho atual (levando em conta que Stoltz ainda atua e dirige). No entanto, ainda cogita-se liberar essas cenas num futuro mais distante.

Como disse Doc Brown, o futuro ainda não foi escrito....



Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 13:48  


Confira alguns fatos e curiosidades a respeito do filme Terremoto - A Falha de San Andreas.




- O filme teve roteiro de Carlton Cuse, conhecido por ter produzido o seriado Lost.

- O filme marca mais uma colaboração entre Dwayne Johnson e o diretor Brad Peyton. Os dois trabalharam juntos em Viagem ao Centro da Terra 2 - A Ilha Misteriosa.

- Parte das cenas de inundação mostradas nas cenas de reportagem no filme são parte de uma enchente que ocorreu de verdade na região de Queensland, na Austrália.

- O filme, assim como diversos outros filmes-desastre, mostra um possível evento natural que pode ocorrer no planeta. A falha de San Andreas, localizada na Califórnia é uma região ativa com terremotos, e pode chegar o dia em que a falha cause uma ruptura completa, transformando parte do estado em uma ilha no Oceano Pacífico.

- Apesar de interpretarem pai e filha, Dwayne Johnson é apenas 13 anos mais velho que a atriz Alexandra Daddario (da série True Detective).

- Após o terremoto que ocorreu no Nepal, a equipe de marketing do filme incluiu informações de como se precaver em situações parecidas, além de passar contatos para aqueles que quisessem ajudar organizações que tentam salvar as vítimas no país.

- Além dos efeitos gerados por computação gráfica, a produção trabalhou com um enorme tanque capaz de suporar 1.5 milhão de litros de água. De acordo com Alexandra Daddario, os atores eram presos por corda e empurrados pelo peso da água.


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Christopher Lee (1922-2015)

(11 de jun. de 2015)


Como muitos já sabem, morreu neste domingo (7 de junho), de complicações respiratórias e cardíacas, Sir Christopher Lee, ator conhecido pelos papéis de Drácula, Saruman e Conde Dookan. Ele tinha 93 anos.

Nascido em 27 de maio de 1922, o ator que havia sido condecorado com o título de cavaleiro britânico dado pela família real inglesa, ficou conhecido principalmente pelos papéis de vilões no cinema.

Fazemos questão de relembrar a vida e carreira de alguém que pode ser considerado uma verdadeira lenda. Não são todos aqueles que podem dizer ter vivido uma vida de forma tão completa, absoluta e diversificada.

Lee formou-se em literatura clássica. Uma escolha interessante, que foi na contramão dos demais atores britânicos, sempre formados em teatro. Lee sempre foi uma pessoa de escolhas e caminhos contrários ao rumo que o restante tomava. Escolhia vilões e era considerado alto demais para o mundo audiovisual (um ramo que é marcado por atores que em sua maioria possuem altura baixa a fim de encaixar no frame da câmera).

Contudo, com a Segunda Guerra em andamento, ele acabou juntando-se aos finlandeses na Guerra de Inverno, para posteriormente servir como oficial de inteligência para os britânicos da Força Aérea Real. Somente após a guerra que ele pode voltar a se dedicar a suas paixões.

Lee tornou-se famoso na década de 1950 quando assinou contrato com a Hammer Films, empresa que era conhecida por seu acervo de filmes de horror. E foi ali que Lee encontrou seu papel mais marcante, ao encarnar Drácula. Foram dez filmes feitos (muitos em parceria com o igualmente lendário ator britânico Peter Cushing), sendo a maioria deles sucessos retumbantes de público e crítica. Sua voz, seu timbre, seu olhar e seu comprometimento com o personagem fizeram dessa uma performance inesquecível.

Mas Lee tornou-se quem é por ir muito além de suas origens. Muitos atores em filmes de gêneros específicos (como horror) ficam conhecidos apenas por esse tipo de papel e acabam se acomodando. Lee nunca se acomodou, mesmo ficando conhecido pelos papéis de vilão. Ele realizou diversos filmes de Sherlock Holmes, e também uma versão de O Médico e o Monstro.

Já nos anos 1970 ele conseguiu conquistar uma nova geração de fãs ao encarnar um dos vilões mais conhecidos de James Bond, Francisco Scaramanga, o homem com a Pistola de Ouro.

Quase 30 anos depois, Lee resurgiu e foi capaz de atrair a atenção de mais uma nova geração de fãs. Ele tornou-se o vilão Saruman nas adaptações cinematográficas de O Senhor dos Anéis, trilogia que foi exibida entre 2001 e 2003. Ao mesmo tempo, ele filmou dois filmes da saga Star Wars, interpretando o vilão Conde Dookan, nos Episódios 2 e 3. Dez anos depois, ele voltou a Terra Média reprisando o papel de Saruman para a trilogia The Hobbit. Por sinal, sua conexão com esse universo foi muito além de seu papel nos filmes. Além de ter narrado versões áudio dos livros de J.R.R. Tolkien, ele teve o privilégio de ter conhecido o autor pessoalmente.


Lee ficou tão marcado por seus papéis que novas gerações de cineastas cinéfilos foram atrás dele. Foi assim que Lee encontrou-se em filmes de Spielberg e Tim Burton. Mesmo que o filme não fosse da melhor qualidade, ele sempre deu o melhor de si em cada papel. Qualquer um irá lembrar de sua voz numa situação dessas. Foi o caso ao ver Lee na recente refilmagem de Sombras da Noite dirigida por Burton.

E assim, ele foi capaz de transcender diversos gêneros cinematográficos, ao abordar tanto horror quanto ação, fantasia, mitologia, drama e até mesmo comédia em alguns casos. Ao todo, ele atuou em mais de 200 produções.



Qualquer pessoa convencional assume que nessa altura da vida, Lee já poderia ter feito de tudo que pudesse. Só que ele sempre subverteu expectativas, e impressionou a muitos ao lançar uma carreira de música heavy metal, com narrações dele e números musicais também cantados por ele.


Mesmo aos 93 anos, Lee mostrava lucidez, dedicação e profissionalismo inigualáveis. Nesses últimos 15 anos, ele passava uma impressão de imortalidade. Manoel de Oliveira continuou dirigindo filmes mesmo após completar 100 anos de idade. Lee parecia uma daquelas almas imortais que seria capaz de explorar novos rumos, e ir ainda além do caminho que já havia trilhado.

De qualquer forma, ele será sempre lembrado pelo legado que deixou para todos nós.

Descanse em paz Christopher.

Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 09:54  

Enfrentando a Guerra Mundial Z

(10 de jun. de 2015)



Foi anunciado pela Paramount a continuação de Guerra Mundial Z. O filme chegará aos cinemas norte-americanos em 9 de junho de 2017.

Obviamente, essa foi uma resposta do estúdio ao sucesso do primeiro filme, lançado em 2013. Filmes blockbusters de sucesso sempre garantem uma continuação de o estúdio estiver dedicado a seguir em frente, indepedente da história que o filme esteja contando. Todavia, nem todos sabem que esse filme foi uma história de sucesso que ninguém antecipava.

Guerra Mundial Z foi uma produção repleta de problemas - que foram vazados na online - levando todos a esperar um desastre financeiro e de crítica no nível de filmes como Waterworld ou A Ilha da Garganta Cortada.

Brad Pitt havia comprado os direitos de adaptação do romance de Max Brooks, na esperança de criar sua própria franquia de zumbis em um mundo pós-apocaliptico. Ele queria ir além dos filmes de zumbi convencionais, fazendo analogias a problemas sociais e políticos, mostrando o que a humanidade faria numa situação onde tudo virasse do avesso da noite pro dia. O próprio Pitt falou ao Hollywood Reporter que uma das inspirações pro filme era o clássico Inferno na Torre. E a idéia era expandir a história para criar uma trilogia.

Entretanto, tudo começou a dar errado quando contratou-se o diretor do filme.

Marc Forster virou o cineasta queridinho da crítica e do cinema autoral quando realizou o premiado Em Busca da Terra do Nunca, filme que redefiniu o significado de Peter Pan, lançou o ator Freddie Highmore e trouxe Johnny Depp de volta ao estrelato. Contudo, ao assumir a direção de Guerra Mundial Z, os problemas começaram antes mesmo das filmagens.

Acostumado com filmes pequenos, Forster era incapaz de tomar decisões firmes a respeito de aspectos da produção como a direção de design dos zumbis. Isso atrasaria a produção, e num caso desses quanto mais se demora, pior o prejuizo financeiro para quem está bancando (o filme já custava mais de 170 milhões de dólares). Ao mesmo tempo, por mais que possa se culpar o diretor pelos atrasos, não se pode ignorar o papel da Paramount ao tê-lo contratado. Forster já havia dirigido 007 - Quantum of Solace em 2008, considerado um dos piores filmes de James Bond principalmente devido a péssima direção das sequências de ação (dentre outros problemas). Ele já era conhecido por não ser compatível com blockbusters. Tendo contratado Forster em 2011 para assumir Guerra Mundial Z, a Paramount sabia no que estava se envolvendo.

Atualmente, Hollywood passa por uma situação em que datas de estreia são marcadas antes mesmo de se ter um roteiro filmável, em muitas de suas produções. Boa parte do terceiro ato do roteiro de Guerra Mundial Z teve de ser refeito para que tivesse um final capaz de prender o público. Damon Lindelof foi contratado para revisar toda essa parte. E mesmo assim, ele e Drew Goddard teriam menos de 12 meses para acertar o texto, filmar tudo e passar por um longo processo de edição e pós-produção. Para se ter uma idéia, um blockbuster de qualidade precisa de pelo menos dois anos para ser construído.

Para resolver o fator Forster, os produtores decidiram contratar figuras de peso que tivessem a capacidade de tomar decisões sem depender tanto de Forster. Pessoas como o experiente diretor de fotografia Robert Richardson e o coordenador de cenas de ação Simon Crane. Isso gerou um novo problema que foi uma falta de consenso e liderança na equipe, atrapalhando ainda mais as filmagens. Boa parte disso poderia ser resolvida com mais dias de filmagem, e o estúdio recusava-se a gastar mais dinheiro em qualquer custo adicional.

De qualquer forma, mesmo o clima sendo de pessimismo a respeito do filme, nem sempre se pode confiar nas expectativas, sejam elas positivas ou negativas. Em 1977, todos esperavam que Star Wars fosse um fiasco retumbante devido aos inúmeros problemas que sua produção também enfrentou, dentre eles a completa falta de confiança do estúdio. Guerra Mundial Z surpreendeu a todos, conseguindo bons números de bilheteria e ganhando o respeito de boa parte da crítica, tornando-se um dos destaques do verão norte-americano em 2013.

Muitos atribuem o sucesso do final ao terceiro ato, que foi todo revisado. Existe o mito de que por pior que um filme esteja, um bom final o salva. Não acho que seja necessariamente o caso. Um filme precisa de um bom gancho para prender o público, e Guerra Mundial Z tem um ótimo começo colocando o público no ponto de vista daquela família vendo o mundo desmoronar gradualmente ao seu redor. No fim das contas, por mais que ocorram problemas por trás das câmeras, o que realmente conta é como o público responde ao que vê na tela de cinema.

Pelo menos agora, Pitt pode contemplar sua ambição original de ter a trilogia completa.

Posted in 0 comentários Postado por Eduardo Jencarelli às 11:26