Relembrando Jurassic Park

(18 de jun. de 2015)




Faz 22 anos que chegou aos cinemas Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros. Clássico dirigido por Steven Spielberg, o filme foi um divisor de águas ao mostrar dinossauros com realismo inédito para o público. Não se via um salto tecnológico deste nível desde o primeiro Star Wars de 1977.

Com Jurassic World chegando aos cinemas neste mês de junho, é uma boa hora para rever os filmes que marcaram essa série.


Jurassic Park começou no final da década de 1980 com o romance original escrito e publicado pelo autor Michael Crichton. Conhecido por suspenses guiados por uma narrativa de lições científicas, Crichton apropriou-se da idéia de recriar espécies extintas há 65 milhões de anos através da redescoberta do DNA original deles. Assim, nasceu Jurassic Park, história que levantou questões sérias a respeito da responsabilidade humana de brincar de Deus ao tentar recriar o passado, contrariando as leis da natureza. O livro foi um sucesso de vendas e garantiu uma continuação literária, O Mundo Perdido, lançado em 1995.


Spielberg descobriu Jurassic Park durante uma reunião que teve com Michael Crichton, que então tentava vender seu roteiro-piloto para o seriado ER (que levou mais alguns anos até ser produzido). Quando Spielberg perguntou no que Crichton estava trabalhando, ele mencionou a sinopse de Jurassic Park, o que imediatemente mudou o rumo da conversa. Não havia pessoa melhor para adaptar esse trabalho do que Spielberg. Conhecido por clássicos como E.T. e Contatos Imediatos (além do espirito aventureiro de Indiana Jones), ele procurou abrir espaço em sua agenda para assumir a adaptação, tendo de conciliá-la com Hook - A Volta do Capitão Gancho, e A Lista de Schindler.

O grande desafio de adaptação seria a capacidade de criar dinossauros com a tecnologia daquele momento. Até então, filmes com dinossauros não eram vistos como obras-primas de teor visual. Eram produções baratas e com a tecnologia primitiva demais para mostrá-los com a escala necessária. No fim das contas, foi necessário o surgimento da Industrial Light & Magic de George Lucas, e seu trabalho pioneiro na trilogia Star Wars e inúmeras outras produções nos anos 80 para que ganhassem a experiência necessária. Também era necessário que a tecnologia evoluísse a esse mesmo ponto. Com artistas como Stan Winston e Phil Tippett, eles foram capazes de realizar a visão que Spielberg tinha.



Mas construir dinossauros não era o suficiente. Haviam cenas em que precisava-se de movimento e escala. Colocar 20 dinossauros no mesmo frame era inviável. Foi aí que entrou a computação gráfica, tecnologia evolução há mais de dez anos desde que testaram a sequência Gênesis em Jornada nas Estrelas II feita toda por computador. Foi com essas máquinas e essa nova tendência artística digital que tornou-se possível realizar essa ambição visual.

Conseguir sucesso de público no cinema depende muito da faixa etária que você atinge. Assim como Star Wars, o grande sucesso de Jurassic Park foi conseguir a atenção do público infantil. Além da forte campanha publicitária, era uma época em que dinossauros estavam na moda. A própria presença de personagem mirins como Lex e Tim na trama dão a esse público a chance de ter um ponto de vista parecido. Claro que seguindo o padrão Spielberg, o filme possui dois ou três momentos aterrorizantes capazes de traumatizar qualquer espectador abaixo de uma certa idade. Assim como Bambi perdia sua mãe, Jurassic Park não seria o que é se não mostrasse algumas pessoas sendo atacadas pelos bichos, mesmo não sendo filmado de forma sangrenta. E também não seria uma história impactante se não tivesse a vida dos personagens em jogo.


Era inevitável que viesse a continuação. Contudo, Spielberg levou mais quatro anos para fazer O Mundo Perdido pelo fato dele ter tido de lançar A Lista de Schindler, desenvolver o longa Amistad, e ainda estar ocupado lançando um novo estúdio: a DreamWorks.



O Mundo Perdido foi talvez a primeira grande decepção vinda de Spielberg. O filme, ao invés de seguir mais de perto a trama do livro, preferiu seguir outro caminho. A ausência de personagens como Grant e Ellie foi sentida, e a elevação de Ian Malcolm a protagonista da trama foi um dos aspectos do livro que não foi bem adaptado para as telonas. Percebe-se que a trama depende desmasiadamente de personagens cometendo erros que nenhuma pessoa sensata jamais cometeria, e os momentos de tensão são quebrados de forma artificial por alívios cômicos que quase nunca funcionam. O filme foi um sucesso de bilheteria, mas mal visto pela crítica. 1997 foi um ano marcado por decepções similares.



De qualquer forma, a Universal e a Amblin tinham uma mina de ouro a ser explorada. Jurassic Park III começou a ser concebido, só que desta vez Spielberg operaria apenas como produtor executivo. Quem assumiu a direção foi Joe Johnston, diretor de arte de efeitos visuais da ILM que havia começado sua carreira em Star Wars. Já tendo dirigido Jumanji (1996), foi provavelmente a escolha mais sensata para assumir o projeto.

O problema era em acertar o roteiro. Foram necessárias dezenas de versões. E uma das obrigações era ter Grant, o personagem de Sam Neill, de volta como protagonista.


No fim das contas, o filme teve um sucesso moderado de público em 2001. Não foi a mesma decepção que o filme anterior, mas existe o consenso de que foi uma continuação-padrão, contente em retomar elementos narrativos já estabelecidos na série, sem inovar ou tentar novos rumos. Mesmo a mão talentosa de Alexander Payne (Nebraska) no roteiro foi incapaz de elevar a dinâmica entre os personagens devido a previsibilidade da trama.



Assim, a Universal engavetou futuras continuações até que se tivesse uma história melhor e que se livrasse dos erros cometidos no passado. Spielberg veio com uma possível idéia, e várias versões de roteiro vieram nos anos seguintes, incluindo uma que traria de volta Lex, a personagem de Ariana Richards nos primeiros filmes. Contudo, nenhuma delas foi adiante. Supostamente nenhuma das versões dos roteiros agradavam Spielberg, ao perceber que nenhuma delas equilibrava a ciência com a aventura. Com o tempo os produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy se afastaram da possibilidade de que isso fosse realmente se concretizar, e com a morte de Michael Crichton em 2008, parecia cada vez mais distante a possibilidade de alguém se interessar neste universo novamente...


Isso tudo mudou em 2011.


Com o sucesso inesperado de Planeta dos Macacos: A Origem, seus dois roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver tornaram-se o casal mais cobiçado e demandado em Hollywood. Logo a Universal os procurou para ajudar a desenvolver o novo Jurassic Park. Com Colin Trevorrow assumindo a direção, todos os envolvidos começaram a se entender, eventualmente atingindo consenso. E isso poderia fácilmente ter dado errado, levando em conta o risco de colocar diretores independentes no comando de blockbusters. Felizmente, ao contrário de diretores como Marc Forster (Quantum of Solace), Trevorrow que tinha feito apenas o independente, mas excelente Sem Segurança Nenhuma, foi mais do que capaz de assumir um filme deste tamanho, mexendo no roteiro e contribuindo com sua visão para ampliar e diversificar o universo criado por Spielberg e Crichton.

E assim o projeto finalmente emplacou.




Como vimos nos trailers recentes, o filme mostra uma evolução natural dos eventos que se passaram. Com o parque oficialmente aberto e funcionando, nós como público agora podemos nos colocar nos pés desses turistas, criando-se uma situação inusitada. Esse era o rumo que o terceiro filme deveria ter tomado.

Agora resta sentar e ver o que o futuro nos aguarda...




Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:38  

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