Recentemente, Simon Pegg falou ao The Guardian sobre seu trabalho como ator e roteirista no novo filme de Star Trek, que pode ser chamado de Star Trek Beyond (o filme estreia em setembro de 2016, quando a série completa 50 anos de existência). Pegg falou sobre o motivo que levou a Paramount a tirar Roberto Orci da produção do longa.

Para quem não se lembra, Orci foi roteirista dos dois filmes anteriores, colaborando com seu parceiro de longa data Alex Kurtzman e o diretor/produtor J.J. Abrams, e estava supervisionando o roteiro do terceiro filme. Orci desejava dirigir a produção, e teve o apoio de J.J. Abrams para convencer os executivos do estúdio (Abrams já estava envolvido como diretor em Star Wars - O Despertar da Força). Inclusive, há um ano atrás, Orci havia dito que sua intenção era a de abordar uma trama que levasse a tripulação da Enterprise em uma jornada de exploração por partes desconhecidas da galáxia, levando a série de volta a sua premissa original (até porque os filmes de Abrams haviam ignorado esse aspecto, focando mais em recriar a dinâmica entre os personagens).

Contudo, de acordo com Pegg (que interpreta Scotty nos filmes), o estúdio rejeitou a versão do roteiro de Orci por ser excessivamente Star-Trek-y (que é uma referência a palavra Trekkie, termo conhecido por caracterizar os fãs mais fervorosos da série):

Vingadores’, que é algo bem nerd, baseado em quadrinhos, algo supostamente de nicho, fez US$ 1,5 bilhão. ‘Além da Escuridão’ fez meio bilhão, o que ainda é muito bom. Mas isso significa que, de acordo com o estúdio, ainda existe US$ 1 bilhão em bilheteria que não foi para ‘Star Trek’. E eles querem saber o porquê. As pessoas não veem [Star Trek] como algo divertido, colorido, um entretenimento de sábado à noite como ‘Vingadores’. A solução seria fazer um faroeste, um suspense ou um filme de assalto e povoá-los com personagens de Star Trek, então seria mais inclusivo para o público que possa estar um pouco reticente“.
Desta forma, percebemos que o objetivo do estúdio é tentar replicar o mesmo nível de sucesso atingido por produções baseadas em histórias em quadrinhos de super-heróis, tentando inserir o máximo possível de elementos que tornem esse universo mais divertido para um público que não necessariamente assiste a obras de ficção científica.



Contudo vale lembrar que esse sempre foi um dilema para Star Trek. A série sempre teve sucesso com um público bem específico. Ao contrário de Star Wars, que sempre abordou o ambiente espacial com temática de contos de fada, histórias de heroísmo e outros temas universais, Trek sempre foi ficção científica na raíz - um gênero que sempre causou divisão por não ser tão comercial ou atrativo. Quando Abrams assumiu a série em 2007, houve um esforço para torná-la mais comercial, e ele foi capaz de atingir um equilíbrio entre o lado comercial e artístico, deixando a narrativa fluir com a complexidade e dedicação que se espera duma produção desse porte, ao mesmo tempo elevando o nível de adrenalina e diversão de forma a agradar um público mais amplo. O fato da Paramount ter investido muito mais dinheiro nesses dois filmes também ajudou a realizar essa visão mais ampla (com exceção do filme original de 1979, todos os filmes de Jornada nas Estrelas tiveram orçamentos restritos).

Isso também entra no velho quesito das continuações: ao mesmo tempo que é necessário investir em novas histórias e novos personagens para manter o frescor narrativo, existe uma demanda para repetir o que já tenha funcionado nos filmes anteriores.

A questão que se faz é a seguinte: com Justin Lin (da série Velozes e Furiosos) na direção, e a Paramount querendo reduzir ainda mais o teor clássico de Star Trek para atingir esse público, será que o futuro filme corre o risco de alienar os fãs mais dedicados?

Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:47  

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