Em uma conversa com o Collider, o roteirista Max Borenstein disse que está trabalhando no roteiro do novo Godzilla, continuação do filme de 2014, e que está almejando produzir uma história ainda maior e melhor.


Eis um dos maiores dilemas que assola o cinema comercial nos dias atuais. Como que uma continuação supera a obra original?


Essa é uma questão difícil de ser respondida. Produzir filmes já é em si um desafio gigantesco. Reunir dezenas de pessoas e executar sua visão requer tempo, paciência e recursos. E isso é apenas na etapa de produção. Após tudo isso, resta superar o maior desafio que todo filme possui: agradar o público e tornar-se sucesso. Caso isso aconteça, o diretor pode sentar-se com calma e dizer missão cumprida....



....Só que o estúdio chega logo em seguida e o pede para assumir a direção da famigerada sequência.



Existem diversos motivos pelo qual o diretor não queira assumir tal responsabilidade: ele pode estar exausto da megaprodução anterior ou ele pode ter outros projetos pessoais que deseja trabalhar. As possibilidades são diversas, mas o receio de retomar a mesma obra de ficção com os mesmos personagens é uma ressalva pertinente.



E é por isso que raramente diretores retornam para assumir continuações. Nesse caso, o estúdio contrata alguém menos conhecido e fácil de seguir diretrizes pré-estabelecidas de produção. E esse é um dos motivos pelo qual sequências quase nunca chegam perto do filme original.


Vamos tomar como exemplo a franquia Indiana Jones. Como todos sabem, Os Caçadores da Arca Perdida (1981) foi lançado nos cinemas, foi um sucesso imediato, introduzindo um personagem carismático vivido por Harrison Ford, e fez da arqueologia, um ramo acadêmico, fruto de diversas aventuras. Ninguém contesta o sucesso do filme original, criado por Lucas e Spielberg. Tanto que mais de 30 anos depois, ele envelheceu bem, e reprisá-lo quase sempre garante uma sessão divertida.



Já o mesmo não pode se dizer de suas continuações. É claro que opiniões variam de filme para filme. Gosto é subjetivo. Todavia, é quase certo afirmar que O Templo da Perdição (1984), A Última Cruzada (1989) e O Reino da Caveira de Cristal (2008) não foram capazes de se igualar ao impacto do filme original. Acho que cada filme possui seus méritos e são fatias essenciais que mostram a evolução do personagem icônico. Só que é impossível recriar aquele impacto original. Mesmo quando outro estúdio tenta criar uma obra diferente com semelhanças, o resultado deixa a desejar como vimos quando a Disney produziu A Lenda do Tesouro Perdido (2004). A percepção de Indiana Jones já havia contaminado o público e qualquer tentativa de recriar a mesma impressão deixaria a desejar.


A analogia da copiadora funciona bem nesse caso. Fazer a cópia de uma cópia jamais produzirá um resultado satisfatório.


De qualquer forma, esta não é uma regra rígida. Existem continuações mais do que capazes de se igualar ou até superar a obra original. O desafio para qualquer autor é ser capaz de expandir a obra original e encontrar uma história a ser contada que contribua para o enriquecimento desse universo. O próprio Tolkien teve esse desafio ao criar O Senhor dos Anéis, seguindo o sucesso de O Hobbit.



No fim das contas, é um desafio de escala vertiginosa se superar a cada obra produzida, ainda mais no mundo atual em que vivemos, em que o público a atenção dividida dentre tantos estímulos. Se a obra não for capaz de prendê-los logo de cara, então não irá.


Para Hollywood, que vive de continuações, prequels e remakes, isso é um desafio maior ainda. E por mais que os sucessos garantidos persistam, percebe-se que há cada vez menos espaço para obras originais. E não será o aparente fracasso do novo Quarteto Fantástico* que mudará essa mentalidade.


*Havia planos para inserir o filme no mesmo universo cinematográfico dos X-Men. Com o aparente fracasso, os planos vem sendo timidamente abortados pelo estúdio.




Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 12:32  

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