Enfrentando a Guerra Mundial Z

(10 de jun. de 2015)



Foi anunciado pela Paramount a continuação de Guerra Mundial Z. O filme chegará aos cinemas norte-americanos em 9 de junho de 2017.

Obviamente, essa foi uma resposta do estúdio ao sucesso do primeiro filme, lançado em 2013. Filmes blockbusters de sucesso sempre garantem uma continuação de o estúdio estiver dedicado a seguir em frente, indepedente da história que o filme esteja contando. Todavia, nem todos sabem que esse filme foi uma história de sucesso que ninguém antecipava.

Guerra Mundial Z foi uma produção repleta de problemas - que foram vazados na online - levando todos a esperar um desastre financeiro e de crítica no nível de filmes como Waterworld ou A Ilha da Garganta Cortada.

Brad Pitt havia comprado os direitos de adaptação do romance de Max Brooks, na esperança de criar sua própria franquia de zumbis em um mundo pós-apocaliptico. Ele queria ir além dos filmes de zumbi convencionais, fazendo analogias a problemas sociais e políticos, mostrando o que a humanidade faria numa situação onde tudo virasse do avesso da noite pro dia. O próprio Pitt falou ao Hollywood Reporter que uma das inspirações pro filme era o clássico Inferno na Torre. E a idéia era expandir a história para criar uma trilogia.

Entretanto, tudo começou a dar errado quando contratou-se o diretor do filme.

Marc Forster virou o cineasta queridinho da crítica e do cinema autoral quando realizou o premiado Em Busca da Terra do Nunca, filme que redefiniu o significado de Peter Pan, lançou o ator Freddie Highmore e trouxe Johnny Depp de volta ao estrelato. Contudo, ao assumir a direção de Guerra Mundial Z, os problemas começaram antes mesmo das filmagens.

Acostumado com filmes pequenos, Forster era incapaz de tomar decisões firmes a respeito de aspectos da produção como a direção de design dos zumbis. Isso atrasaria a produção, e num caso desses quanto mais se demora, pior o prejuizo financeiro para quem está bancando (o filme já custava mais de 170 milhões de dólares). Ao mesmo tempo, por mais que possa se culpar o diretor pelos atrasos, não se pode ignorar o papel da Paramount ao tê-lo contratado. Forster já havia dirigido 007 - Quantum of Solace em 2008, considerado um dos piores filmes de James Bond principalmente devido a péssima direção das sequências de ação (dentre outros problemas). Ele já era conhecido por não ser compatível com blockbusters. Tendo contratado Forster em 2011 para assumir Guerra Mundial Z, a Paramount sabia no que estava se envolvendo.

Atualmente, Hollywood passa por uma situação em que datas de estreia são marcadas antes mesmo de se ter um roteiro filmável, em muitas de suas produções. Boa parte do terceiro ato do roteiro de Guerra Mundial Z teve de ser refeito para que tivesse um final capaz de prender o público. Damon Lindelof foi contratado para revisar toda essa parte. E mesmo assim, ele e Drew Goddard teriam menos de 12 meses para acertar o texto, filmar tudo e passar por um longo processo de edição e pós-produção. Para se ter uma idéia, um blockbuster de qualidade precisa de pelo menos dois anos para ser construído.

Para resolver o fator Forster, os produtores decidiram contratar figuras de peso que tivessem a capacidade de tomar decisões sem depender tanto de Forster. Pessoas como o experiente diretor de fotografia Robert Richardson e o coordenador de cenas de ação Simon Crane. Isso gerou um novo problema que foi uma falta de consenso e liderança na equipe, atrapalhando ainda mais as filmagens. Boa parte disso poderia ser resolvida com mais dias de filmagem, e o estúdio recusava-se a gastar mais dinheiro em qualquer custo adicional.

De qualquer forma, mesmo o clima sendo de pessimismo a respeito do filme, nem sempre se pode confiar nas expectativas, sejam elas positivas ou negativas. Em 1977, todos esperavam que Star Wars fosse um fiasco retumbante devido aos inúmeros problemas que sua produção também enfrentou, dentre eles a completa falta de confiança do estúdio. Guerra Mundial Z surpreendeu a todos, conseguindo bons números de bilheteria e ganhando o respeito de boa parte da crítica, tornando-se um dos destaques do verão norte-americano em 2013.

Muitos atribuem o sucesso do final ao terceiro ato, que foi todo revisado. Existe o mito de que por pior que um filme esteja, um bom final o salva. Não acho que seja necessariamente o caso. Um filme precisa de um bom gancho para prender o público, e Guerra Mundial Z tem um ótimo começo colocando o público no ponto de vista daquela família vendo o mundo desmoronar gradualmente ao seu redor. No fim das contas, por mais que ocorram problemas por trás das câmeras, o que realmente conta é como o público responde ao que vê na tela de cinema.

Pelo menos agora, Pitt pode contemplar sua ambição original de ter a trilogia completa.

Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:26  

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