Após o sucesso financeiro do primeiro filme, a Paramount sabia que tinha uma franquia em suas mãos. Não tinha o mesmo apelo que um blockbuster como Star Wars, mas era um produto de ficção científica com uma sólida base de fãs apaixonados. Era mais do que suficiente para manter Star Trek indo em frente.


Contudo, o estúdio não estava disposto a gastar os mesmos rios de dinheiro que havia investido no primeiro filme. A ordem do dia era economizar e fazer um filme de sucesso dentro dos limites.


A primeira diretriz do estúdio foi lidar com Gene Roddenberry. O estúdio aproveitou para colocar a culpa pelo orçamento nele. Em seguida, fez com que ele assinasse um termo que o 'promovia' a consultor executivo. Tendo criado Jornada nas Estrelas, Roddenberry tinha um contrato que impedia o estúdio de removê-lo da produção. Apesar disso, a Paramount conseguiu colocar Roddenberry numa posição sem autoridade. Ele poderia ler roteiros e opinar em cada um deles, mas não teria poder além disso.


Resumindo, ele foi consultor durante todos os filmes seguintes. Além disso, ele passou boa parte desse tempo tentando vender uma idéia em que a tripulação da Enterprise voltava no tempo para impedir o assassinato do Presidente Kennedy. Idéia que jamais foi produzida.


Enquanto isso, em janeiro de 1980, a cúpula da Paramount se reuniu com o produtor Harve Bennett. Bennett foi colocado como o chefe da franquia graças a sua experiência televisiva, capaz de produzir obras de qualidade dentro do orçamento. O outro problema a ser resolvido era Leonard Nimoy. Ele estava cansado de interpretar Spock e queria se ver livre da obrigação a qualquer custo.



Foi então que Bennett e os roteiristas jogaram em cena a idéia de matar o personagem.


Nimoy gostou da idéia na hora. Era a oportunidade de dar um fim definitivo a Spock, livrando-o da obrigação, e também de dar uma última performance a ser lembrada. De qualquer forma, Bennett ainda precisava criar um roteiro bom o suficiente que agradasse a ele, a William Shatner, e ao estúdio. Eram muitos a se agradar. Ao mesmo tempo, foi um processo doloroso achar uma história que fosse filmável. Foram inúmeras versões.


Quando Bennett contratou Nicholas Meyer para dirigir o filme, esse processo chegou ao fim. Meyer disse que resolvia os problemas do roteiro durante um fim de semana. Meyer reescreveu tudo nesse tempo e conseguiu agradar a todo mundo.


Além do longa lidar com a morte de Spock, os roteiristas foram capazes de criar um arco dramático para Kirk, que lidava com a vinda da velhice e sua capacidade de comando. Misturando isso com o tema de vida e morte através da trama envolvendo o Projeto Gênesis (que ressuscitava planetas mortos), o filme foi capaz de criar múltiplas camadas dramáticas.


Outro fator de sucesso pro filme foi a decisão de Bennett em reaproveitar o vilão Khan, criado no seriado, novamente vivido por Ricardo Montalban. Sua busca por vingança contra Kirk pela morte da esposa adquiriu tons de Moby Dick quando Meyer mexeu no roteiro.


Já na direção, ele fez questão de filmar como se fosse um filme náutico e submarino, repleto de referências. Como o orçamento era limitado, sem possibilidade de locação ou grandes cenas de ação, Meyer teve de filmar a maior parte da trama no set da ponte da Enterprise. Kirk e Khan nunca se encontram pessoalmente. Todo o conflito é feito entre as naves, e a comunicação é feita através do visor da ponte. Coube aos técnicos e designers da Industrial Light & Magic a responsabilidade de gerar a batalha espacial mais impactante possível dentro desses limites.


Outro fator positivo que contribuiu para o teor náutico foi a trilha bombástica de James Horner. Para ele e Meyer, Jornada nas Estrelas era a versão espacial de Horatio Hornblower. Este foi também o filme que introduziu os uniformes vermelhos que mais foram bem recebidos pelos fãs, se afastando do figurino inexpressivo do primeiro filme. Foi um filme visualmente e esteticamente mais fiel ao estilo televisivo consagrado pela série original, bem diferente do primeiro longa que tentou ser mais cinematográfico.


A maioria deve lembrar da trama do filme. Kirk está se aposentando e participa de uma viagem de treino na Enterprise, agora manejada por oficiais jovens comandados por Spock. O filme ganha presença da vulcana Saavik (Kirstie Alley) que em sua postura lógica desafia as decisões de Kirk. Enquanto isso, Khan consegue assumir o comando da Reliant e causa danos graves na Enterprise, matando diversos oficiais. Kirk também se reúne com sua ex-amante e seu filho adulto, ambos cientistas responsáveis pela criação do projeto Gênesis. Cabe a Kirk impedir que Khan consiga o torpedo Gênesis, que causaria uma reação nuclear intergalática capaz de engolir a Enterprise. No processo, Spock sacrifica sua vida para consertar os motores da nave, e a história termina com Kirk enterrando seu amigo num torpedo que aterrisa intacto no novo planeta Gênesis.


O que nem todos devem lembrar é que a Paramount teve de lidar com protestos vindos dos fãs. Gene Roddenberry, que lera todos os roteiros, vazou a notícia da morte de Spock, causando uma revolta. Coube ao estúdio apaziguar os fãs de alguma forma. Para isso, eles e Harve Bennett tiveram de convencer Meyer a filmar uma cena adicional com Kirk e McCoy na qual eles citavam uma passagem de Charles Dickens e viam Gênesis com otimismo. Era uma forma nada sutil de dizer ao público que a história ainda não havia acabado.


Outro detalhe que mudou o final veio de Leonard Nimoy. Com a morte de seu personagem iminente, ele percebeu que ainda não estava pronto para dar adeus a Jornada. Ele conversou com Bennett e chamou DeForest Kelley. Juntos, eles fizeram uma cena na qual Spock incapacita McCoy com um toque vulcano e usa a palavra "lembre-se". Era um pequeno detalhe que daria a eles a oportunidade de voltarem atrás caso os fãs pedissem a volta de Spock. Era vago o suficiente para isso. Meyer não gostou dessa tentativa de reverter algo que deveria ser definitivo.


No fim das contas, o filme foi lançado em 1982, e acabou se tornando um enorme sucesso. Não teve tanta bilheteria quanto o primeiro, mas foi muito bem recebido pelos fãs e a crítica. E se levar em conta o orçamento de 10 milhões de dólares, foi um sucesso ainda maior. E mais importante: o diretor da Paramount, Michael Eisner, ligou na semana seguinte para Harve Bennett dizendo a ele para começar a desenvolver o terceiro filme de Jornada para ser lançado dentro de dois anos.


A ordem do dia era trazer Spock de volta.


E agora fique com uma das cenas mais marcantes de todos os 50 anos de Star Trek, logo abaixo:




Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:47  

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