Logan - O Fim de uma Era
(8 de mar. de 2017)
Difícil acreditar que já foram 17 anos desde a primeira aparição de Hugh Jackman no papel de Wolverine.
Ainda lembro de quando fui assistir ao primeiro filme dos X-Men, no inverno de 2000 no Cine Leblon. Tinha certas expectativas de como o filme se diferenciaria adaptando os quadrinhos criados por Stan Lee e Jack Kirby. Jackman conseguiu capturar a essência do personagem enquanto que criava algo completamente diferente.
10 filmes depois, chegamos ao final dessa jornada. Quando vi Dias de um Futuro Esquecido em 2014, tinha certeza de que nenhum dos filmes posteriores seria capaz de se igualar à montanha-russa emocional que foi a conclusão daquela aventura. Após séculos de dor e sofrimento, Logan finalmente encontrado a paz, estando junto aos X-Men que tanto amava e protegia. Era um final tão perfeito que eu temia qualquer obra que viesse em seguida*.
*X-Men Apocalipse não teve esse problema por lidar com a década de 1980 na trama, e Deadpool seguiu um caminho completamente diferente.
Todos sabiam que Logan seria a última jornada do mutante canadense nas telas de cinema com Jackman no papel. O que ninguém esperava era o que o filme fosse ser uma obra-prima. Não é apenas o melhor filme dos X-Men. É possívelmente o melhor filme de super-heróis já produzido no cinema.
O restante do post lidará com fortes spoilers.
Logan foi muito além da jornada-solo que se esperava. O filme não é apenas uma filme de ação com roteiro de viagens e perseguições. O maior vilão do filme não é Donald Pierce, os Reavers ou o Dr. Rice. A maior ameaça para esses heróis é a própria mortalidade.
Isso é terreno novo e repleto de potencial para filmes de super-heróis. Quando Christopher Nolan fez o último filme da trilogia Batman, ele flertou com essa questão ao apontar a debilitação física de Bruce Wayne, mas esse nunca foi o ponto central. Logan faz da velhice e da senilidade o motor central de toda a agonia e o drama enfrentado nessa narrativa. O filme não explica detalhadamente, mas fica subentendido que os X-Men morreram devido a um episódio de descontrole mental enfrentado por Charles Xavier. O fato do mutante com mais de 90 anos de idade ter um desequilíbrio mental associado com seus poderes faz de seu maior talento sua maior fraqueza.
E Logan enfrenta essa situação da forma mais pragmática possível. Ele esconde o professor de todos. Se os X-Men sempre foram uma analogia pras mudanças que ocorrem na adolescência, Logan lida diretamente com a perda das mais básicas funções motoras e fisiológicas. Xavier que já era paraplégico precisa ir ao banheiro com a ajuda de Logan ou Caliban. Ele precisa ser mantido medicado num horário rigoroso, caso contrário poderá deflagrar outra onda de mortes devido ao descontrole de seus poderes. Não é simplesmente um caso de isolar o idoso num asilo, e sim manter cuidado 24h por dia por ele representar uma ameaça para si mesmo e todos ao seu redor.
Psicologicamente, deve se levar em conta tudo que Logan passou em sua vida. Quantas pessoas que ele amou e perdeu. Quantas batalhas lutou. Quantos ferimentos sofreu. Seu fator de cura não pode ser visto como algo positivo se você terá de ver todos os que ama morrerem. Jackman transmite todo esse peso desde o primeiro frame de filme até finalmente abrir mão dele em seus suspiros finais.
E Xavier, a medida que compreende a magnitude do que houve, expressa profunda dor e arrependimento. Patrick Stewart merece um Oscar por essa performance. Tanto ele quanto Jackman exploram novas facetas de seus personagens.
Ao mesmo tempo, Logan lida com a perda do fator de cura que o protege cada vez menos. A presença do adamantium tornou-se um veneno, e ele já não é mais capaz de retalhar soldados sozinho. A violência explícita do filme demonstra essa fragilidade. E não é só a violência física, mas também verbal. Há 17 anos atrás, eu jamais imaginaria que teríamos um filme onde o Xavier de Stewart soltaria palavras de tão baixo calão. E todas dentro do contexto da frustração do personagem.
O tempo de Logan já passou. Isso abre espaço para a mais nova mutante deste universo. Laura representa uma nova esperança para uma nova geração. E James Mangold foi corajoso ao retratá-la da forma mais violenta, mostrando que ninguém é inocente neste mundo por mais jovem que seja. Dafne Keen abraçou o papel com convicção.
Ao contrário da melodramática morte de Superman no fatídico Batman vs. Superman (onde já sabemos que haverá ressurreição), a morte de Logan tem um impacto muito mais duradouro. O público viu a progressão de sua decadência física durante o filme inteiro. Além do que, a gente sabe que Jackman deu seu adeus ao papel.
Se existe qualquer resquício de justiça em hollywood, eles deveriam aposentar o personagem dos cinemas. Mantê-lo fora de cena durante uns 30 ou 40 anos. Até porque vai ser impossível replicar o impacto de Jackman no papel. É melhor deixar o mutante canadense para uma futura geração, e fazer algo diferente com ele. Não há porque trazê-lo de volta tão cedo. A Sony é prova viva de que fazer um reboot do Homem-Aranha menos de cinco anos após sua última aparição é uma manobra descaradamente mercantilista. Que a Fox e os produtores tenham a sensatez de ouvir seus escritores e roteiristas, e que eles continuem a desenvolver este universo sem depender de seu personagem mais popular.
Enquanto isso, Logan pode descansar em paz, porque ninguém vai conseguir superar este filme tão cedo. Confira abaixo o processo de Jackman regravando diálogos e sons do personagem na pós-produção do filme.
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:34
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