Sobre o que é Indiana Jones e a Última Cruzada?


O clássico terceiro filme do arqueólogo interpretado por Harrison Ford e criado por George Lucas e Steven Spielberg foi lançado há 31 anos. Considero ele o melhor filme dentre os quatro lançados, melhor até mesmo que o clássico original, Os Caçadores da Arca Perdida.


E até hoje me pego debatendo e ponderando o significado do filme. Qual o tema que impulsiona sua trama? Muitos citarão o plot básico. Que o filme é sobre a busca que Indy faz atrás do cálice sagrado de Jesus, o Santo Graal.


Mas eu diria que o filme é na verdade a resposta que George Lucas resolveu dar ao último capítulo da trilogia de Star Wars: O Retorno de Jedi.


Para quem não lembra, a trama de Star Wars lida com a jornada de Luke Skywalker, que luta contra o Império galático e descobre que o vilão Darth Vader é seu pai durante o segundo filme, O Império Contra-Ataca. Já no Retorno de Jedi, ele ao invés de lutar contra o pai, ele tenta salvá-lo das garras do Imperador Palpatine e do lado negro da força. Ele consegue, só que seu pai sacrifica a própria vida ao salvar o filho de um ataque mortal de Palpatine.


Em outras palavras, Vader jamais tem a chance de se redimir por seus pecados e voltar a ser o pai que Luke jamais teve a chance de conhecer e conviver. Luke tomou a decisão de poupar seu pai de uma morte em combate em amor a ele, e para não se entregar a raiva e ao ódio que guiam o lado negro da força. Foi uma decisão amorosa, mas era tarde demais para salvar seu pai e ter uma segunda chance.


Indiana Jones e a Última Cruzada foi a forma que Lucas encontrou para dar a seu protagonista essa segunda chance com seu pai. Indy nunca foi próximo de seu único parente, Henry Jones Sr. (Sean Connery). Mesmo após o falecimento da mãe de Indy, Henry Sr. passou a vida dedicado ao estudo e pesquisa do Graal. Indy sempre resguardou ressentimento por essa sensação de abandono e acabou se tornando um lobo solitário, professor ocasional e arqueólogo no tempo livre.


Uma das cenas mais marcantes do filme e da trilogia é quando Henry vê o tanque nazista caindo do penhasco e percebendo que haveria perdido a chance de resolver as pendências com o filho. Ao ver Indy vivo e ileso, sua reação traz mais catarse emocional que qualquer diálogo. É o momento que redefine a relação de pai e filho pra algo muito mais próximo e amoroso. Spielberg filma esse momento com honestidade e franqueza, especialmente com as reações dos colegas Marcus e Sallah que conviveram com Indy e como esse afastamento do pai o afetou ao longo dos anos.


Vale lembrar que Spielberg também teve uma relação complicada com o pai, o culpando pela separação de sua mãe décadas antes. Ele levou todo esse tempo pra conseguir fechar o abismo emocional que os separava. Mais um aspecto da vida real que informa a dinâmica desses personagens.


Com essa reunião emocional amarrada, o filme então torce de forma violenta as emoções do público ao mostrar Henry sendo baleado pelo vilão Donovan, forçando Jones a ir atrás do Graal e depositar sua fé na esperança de cura do pai. Uma aula de roteiro, expectativa e manipulação emocional no melhor sentido.


Por isso que a vitória de Indy nesse filme é tão merecida, muito mais que no primeiro filme. Os nazistas sendo consumidos pela magia da arca não tem o mesmo impacto que Indy arriscando a própria vida pra ter essa segunda chance com o único pai que tem. E é nessa hora que não dá para evitar de imaginar uma versão de Star Wars na qual Vader sobrevivesse e tivesse uma nova chance com o filho. A Vingança dos Sith deixa claro que Anakin já foi uma boa pessoa, capaz de amar e proteger.


Momentos como esses mostram o impacto que mesmo os filmes blockbuster comerciais podem ter quando os cineastas por trás constroem essas histórias com paixão e esforço.






Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:10  

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