Após anos de negociações, a Fox aprovou a continuação de Independence Day, filme-pipoca que foi o maior sucesso de 1996. Com Roland Emmerich novamente na direção, Independence Day: Resurgence, a continuação do filme-desastre que lançou a carreira de Will Smith começa a engrenar, com roteiro já pronto e filmagens sendo agendadas para tudo estar concluído até o verão de 2016, ano em que o primeiro filme completará 20 anos.


Quem lembra de Independence Day irá lembrar de imagens como a nave espacial destruindo a Casa Branca ou o Empire State, mas o que fez o filme dar certo* sem dúvida foi o elenco. Composto por Smith, Judd Hirsch, Bill Pullman, Jeff Goldblum, Randy Quaid, Brent SpinerMary McDonnell, o falecido James Rebhorn, dentre outros, foi a afinidade desses atores (alguns com talento cômico como Hirsch) e seus personagens que fizeram a trama decolar. Fazer um bom filme-pipoca depende desse elemento mais do que qualquer outro. É assim que se conquista a simpatia e respeito do público. Quando você coloca personagens-comuns em uma situação fantástica você estabelece o elemento humano e o fio da narrativa, já que a história tem de ser contada do ponto de vista deles.


*Também vale mencionar a excelente trilha sonora composta por David Arnold, e o inovador design de produção de Patrick Tatopoulos, que trabalhou com Emmerich em Stargate, mas por questão de argumento, iremos manter a discussão no elenco.




Por que estamos falando tanto do elenco? Pelo motivo pelo qual a produção vem sofrendo atrasos. A dificuldade em trazer certos atores de volta. O principal problema sem dúvida foi a recusa de Will Smith em reprisar o papel do Capitão Steven Hiller.


Em 1996, Smith era conhecido apenas pelo seriado Fresh Prince of Bel Air, e o filme Bad Boys. Foi com o sucesso de Independence Day que Smith tornou-se um ícone mundial, e isso o levou a papéis em Homens de Preto, Inimigo do Estado, dando assim início a uma das maiores carreiras já vistas em Hollywood.


Ao mesmo tempo, sabe-se que Smith é uma pessoa difícil de trabalhar. Ele possui a tendência de dar palpites no roteiro de todo filme em que participa. É evidente que após conquistar esse estrelato, Smith ganhou merecidamente essa influência. Tanto que ele possui sua produtora como todo ator de peso. Se ele não tiver o papel de destaque, a situação fica mais complicada*.


*Isso levanta a hipótese de como Smith estaria se portando nas filmagens de Esquadrão Suicida, que é um filme de elenco grande, com destaque para muitos. Fora a foto do elenco que ele postou no Instagram, não sabemos.


Tendo rejeitado a oportunidade de reprisar o papel que o fez famoso deixa Smith com uma imagem de arrogância e estrelismo que vai diretamente contra o tipo de personagens que fizeram dele a pessoa de personalidade simpática a qual o público está acostumado a ver.


O próprio Dean Devlin, roteirista e produtor dos filmes ao lado de Emmerich, considera que essa foi a melhor opção para o filme. Para ele, nunca era a intenção fazer uma continuação se não fosse possível contar uma história que apresentasse algo completamente novo, sem recriar a trama do primeiro filme.




Resta ver o que irá acontecer. De acordo com detalhes revelados, Levinson (personagem de Goldblum) será o diretor da nova agência de defesa espacial humana, que trabalha independente de fronteiras tentando impedir que uma invasão como a do primeiro filme aconteça novamente. Ao mesmo tempo, a trama dará destaque aos filhos de Hiller e do Presidente Whitmore.


E aqui levantamos a segunda bola fora da produção: os papéis dos filhos foram escalados com novos atores.


O personagem Dylan Hiller* será interpretado por Jessie Usher. No primeiro filme, o papel era do então novato Ross Bagley (que havia trabalhado com Smith em Fresh Prince). Nesse caso, Usher tornou-se queridinho das adolescentes nos últimos anos, fazendo participações na TV e no cinema, enquanto que Bagley ficou quase 10 anos longe das telas, reaparecendo recentemente em papéis pequenos.


*Óbviamente colocar Bagley no primeiro filme teve influência de Smith. Se fosse atualmente, não ficaria surpreso se alguém assumisse que ele fosse colocar o próprio Jaden Smith no papel.



A notícia que causou mais estrago para a imagem do filme foi a escolha de uma nova atriz para a personagem Patricia Whitmore, filha do presidente no primeiro filme. Na época, ela foi interpretada pela atriz-mirim Mae Whitman, então com 7 anos. O motivo da revolta é mais do que justo. A personagem será interpretada por Maika Monroe, e supostamente Whitman nem havia entrado para a lista de atrizes para o papel ou teria sido ao menos cogitada por qualquer executivo ou produtor. Além disso, a personagem supostamente teria o romance principal da trama com um novo personagem, que deverá ser interpretado por Liam Hemsworth.


Só que ao contrário de Bagley, Whitman nunca parou de trabalhar. Era é um dos raríssimos casos de atores-mirins que deram certo em Hollywood, sem cair nos vícios ou virar matéria para tablóides. Ela nunca tornou-se uma estrela de tapete vermelho, mas mesmo assim manteve uma carreira firme e forte, fazendo diversos papéis em séries e filmes, incluindo Arrested Development e a mais recente versão de Parenthood, além de diversos papéis de dublagem e animações desde a infância.


Ao contrário de muitos atores, Whitman com seus 26 anos de idade mostra sabedoria e competência que muitas atrizes nem sonhariam em ter. Só que fisicamente, ela nunca entrou no padrão de beleza considerado adequado para papéis em blockbusters de porte.


Então pelo fato de sua personagem estar envolvida em um romance com um personagem interpretado por um dos queridinhos de Hollywood, isso significaria que ela não possui o físico necessário para dividir as cenas com Hemsworth? Os executivos acham que o público rejeitaria um romance tão fora do padrão assim?


Isso é nada mais do que uma falta de respeito demonstrada pelos diveros altos escalões de Hollywood, e ainda por cima numa época em que luta-se mais do que nunca para abolir essa forma de discriminação. Atrizes que não possuem o peso ou a idade consideradas "ideais" merecem mais respeito do que isso.



Isso gerou um clima de revolta e indignação mais do que merecidos. Anna Kendrick, que trabalhou com Whitman na comédia The DUFF, foi a primeira a expressar isso via Twitter.


Entendemos que as vezes não é possível colocar o mesmo ator no papel. Existem inúmeros fatores que contribuem para tais mudanças, e as vezes um novo ator pode trazer algo de diferente para o papel. Um problema é que isso quebra a sensação de realidade orgânica criada dentro da ficção. O espectador percebe se o papel foi tomado por outro ator subitamente (quem viu Game of Thrones recentemente sabe do que estou falando) e percebe as imperfeições na confecção da obra audiovisual.


Mas também desejamos o melhor dos mundos para Monroe e Usher, que são jovens atores com enorme talento e potencial, mais do que capazes de levar seus papéis adiante.


Independence Day: Resurgence estreia em 24 de junho de 2016.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:32  

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