Relembrando Curtis Hanson
(21 de set. de 2016)
Curtis Hanson morreu nesta terça-feira. O diretor tinha 71 anos de idade, e iniciou sua carreira na década de 1970. Hoje iremos lembrar alguns de seus mais famosos trabalhos como cineasta, cuja carreira oscilou dentre os mais diferentes gêneros.
Los Angeles: Cidade Proibida, de 1997, é considerada sua obra-prima. Baseado no livro de James Ellroy, Hanson e o roteirista Brian Helgeland mergulharam profundamente no mundo da corrupção policial. Contrariando a fórmula narrativa usada em filmes hollywoodianos, eles resolveram dividir o foco em diversos personagens, todos com diferentes níveis de complexidade. Era uma volta deliberada ao estilo film-noir. Outro aspecto marcante do longa foi a forma como este esquema de corrupção se misturou ao mundo de hollywood. Quem não lembra de personagens como o policial Jack Vincennes, vivido com maestria por Kevin Spacey, devorando cena após cena?
Foi um filme ambicioso, e foi recompensado por isso com dois Oscars, melhor roteiro e melhor atriz para Kim Basinger. Só não levou mais estatuetas porque teve o azar de competir com Titanic naquele ano. Além disso, Hanson teve liberdade para escalar atores que até então eram pouco conhecidos pelo público como Guy Pearce e Russell Crowe. Ele não queria depender de rostos conhecidos para vender o filme, e desejava explorar talentos inusitados. Foi graças a essa iniciativa de Hanson, que o filme ajudou a impulsionar as carreiras deles.
Já A Mão que Balança o Berço foi um dos suspenses mais assustadores e perturbadores. Lançado em 1992, o filme colocava uma babá (vivida por Rebecca De Mornay) que buscava vingança pela morte do marido, evento que lhe causara um aborto espontâneo. Para tanto, ela se aproveitava da fragilidade física e psicológica da mãe, e cometia atos impensáveis como dar de mamar para seu filho, usando seu próprio leite materno, ou afastar a filha mais velha do convívio com a mãe. Era uma mulher forte, mas ao mesmo tempo uma amostra do potencial para a loucura. Um retrato do cotidiano familiar e como uma única pessoa pode ser capaz de transformar vidas pacatas em verdadeiros infernos.
Uma pena que o filme recorre a certos clichés típicos em filmes de suspense e terror. Um dos piores é o próprio personagem do marido, que é incapaz de perceber que há algo errado naquela situação, questiona a esposa por isso, e acaba virando uma das vítimas por pura inação. A Órfã repetiu esse mesmo elemento em seu roteiro. E sendo um melodrama, o filme abusa de elementos corporais como as crises de asma sofridas pela mãe. Faz parte do suspense.
Dois anos depois, Hanson dirigiu e lançou Rio Selvagem, um suspense com Meryl Streep no qual ela navega com sua família por um rio perigoso, e acabam sendo sequestrados por um par de criminosos (um deles vivido por Kevin Bacon). Como era de se esperar, é uma família fragmentada, com pai sempre ausente, filho rebelde, e uma mãe tentando juntar todos na iniciativa. Já se viu essa história antes.
Um filme bastante previsível, mesmo com os personagens envolvidos em correntezas perigosas sob a ponta de uma arma. De qualquer forma, a performance de Streep como a mãe que tenta manter a família unida é um dos pontos fortes que sustenta o filme.
Hanson sempre foi competente como diretor. Às vezes, não era tão evidente até por roteiros nem sempre bem amarrados. Quando ele se envolvia diretamente no roteiro, como no caso de Los Angeles, os resultados eram bem mais promissores.
8 Mile - Rua das Ilusões, lançado em 2002, foi uma parceria do diretor com o rapper Eminem. O filme detalha a vida de um rapper pobre e sua família, que enfrentam as dificuldades do dia-a-dia. O longa rendeu um Oscar de Melhor Canção Original. Além disso, ele mostrou que Eminem tinha talento além da música. Isso também se deve a direção de Hanson, que procura sempre extrair o melhor de seus atores.
Um dos últimos trabalhos de Hanson foi o telefilme Too Big to Fail, de 2011. Lançado no canal HBO, o longa detalhou os acontecimentos da crise de Wall Street em 2008, e como os banqueiros foram capazes de convencer o governo a salvá-los financeiramente utilizando o argumento de que não poderiam afundar, senão levariam o país junto. Ao contrário de filmes como A Grande Aposta, que tomou uma postura mais crítica quanto a atitude dos banqueiros, o filme de Hanson toma o ponto de vista deles e os retrata de forma tão convincente que você acredita que os bancos merecem ser salvos.
O fato de Hanson ter dirigido este filme para a HBO já mostrava uma tendência dentre diretores de cinema a migrarem para a TV, percebendo que teriam mais liberdade criativa e ofertas fora do sistema blockbuster que já vinha tomando conta do cinema.
Hanson é um dos cineastas que fará falta. Sabia conciliar comercial com autoral e tinha talento de sobra, além de trabalhar bem com todo mundo. Nada mais justo do que celebrar sua vida, revendo suas obras. Fique com duas cenas de seus filmes logo abaixo.
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 12:49
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