Relembrando Waterworld - O Segredo das Águas
(24 de ago. de 2015)
Já faz 20 anos que Waterworld - O Segredo das Águas foi lançado nos cinemas. Nada mais justo que relembrar um clássico.
Lançado em 1995, o filme do então super-astro Kevin Costner foi considerado talvez uma das produções mais desastrosas já concebidas e lançadas até então.
O projeto ganhou força em Hollywood bastante graças a crescente paranóia da década de 90, que era o temor de que o planeta seria incapaz de suportar a expansão humana e sua exploração incessante dos recursos naturais. Vale lembrar que a Eco 92 havia acabado de acontecer no próprio Rio de Janeiro, reunindo pessoas do mundo inteiro, as levando a discutir essas questões. O temor do aquecimento global, e a possibilidade de que as calotas polares derreteriam elevando o nível do mar em vários quilômetros* fazia parte da mentalidade da época.
*Na verdade, em tal evento, é bem provável que boa parte do mundo continuaria igual. Mesmo com todo o degelo polar, o mar não subiria tanto assim, e inundaria somente cidades costeiras. Só que como estamos falando de um filme de ficção, existe um certo nível de liberdade dramática, então na visão dos autores, um degelo inundaria o mundo, incluindo todos os continentes por inteiro, já que esse é o motor da narrativa por trás do mito da Terra Seca.
Para quem se lembra do filme (e suas falhas de lógica de roteiro gigantescas), todos os sobreviventes viviam em alto mar em atóis ou barcos. Costner interpretava Mariner, um humano semi-mutante que era capaz de nadar e respirar embaixo da água, e era visto como uma aberração pelos demais humanos sobreviventes naquele futuro pós-apocaliptico. Gangues como os inexplicáveis Smokers (como eles conseguiam arranjar cigarros num mundo coberto de água?) que atacavam os inocentes. Mariner encontrava Helen (Jeanne Tripplehorn) e sua enteada Enola (Tina Majorino), uma garota que possuía uma tatuagem misteriosa em suas costas que supostamente seria um mapa a ser decifrado que levaria os sobreviventes até a Terra Seca, uma terra milagrosa que não teria sido inundada no passado. Deacon (um dos melhores vilões feitos por Dennis Hopper) também desejava encontrar a terra e estava disposto a raptar a menina. Por isso, Helen pede ajuda ao antissocial Mariner para que os leve à Terra Seca.
A trama era praticamente uma releitura do clássico Mad Max. A única diferença era o cenário, trocando o deserto sem fim pelo mar aberto. Como sempre dizem, em ficção, nada se cria e tudo se copia. Existe a velha teoria de existe um número bastante limitado de tramas possíveis a serem contadas nesse mundo. De qualquer forma, sempre achei esse semelhança um ponto forte. Nada mais justo do que homenagear um clássico. Assim como espectadores, roteiristas também admiram obras originais e procuram extrair o melhor delas.
Joss Whedon, em início de carreira, era requisitado por todos os estúdios para reescrever roteiros de blockbusters como o então recente Velocidade Máxima, e foi levado ao set do filme para ajudar Costner no roteiro. Anos depois, Whedon afirmou que aquelas foram sete semanas literalmente infernais. O grande desafio era acertar o final da trama. Outros roteiristas também tentaram salvar a história. Foram supostamente 36 versões diferentes do roteiro.
Esse foi um dos diversos problemas que o filme enfrentou. Um atol de 250 mil metros quadrados, que havia sido construído no Pacífico perto do Havaí, para ser usado como o set de filmagens, foi derrubado e levado a alto mar pelos ventos. Isso poderia ter sido evitado se o estúdio tivesse investido em estudos das correntes de vento da região. Outros problemas incluiram brigas constantes entre Costner e seu amigo e diretor do filme Kevin Reynolds, a ponto do diretor deixar a produção antes do fim*. Também teve aqueles que afirmaram que havia tensões constantes entre Costner e a equipe, pelo astro ter as melhores acomodações e demandas, enquanto que todo mundo arcava com condições precárias e uma jornada de trabalho incessante.
*Ambos já haviam colaborado em Robin Hood - Príncipe dos Ladrões, e essa briga não os impediria de trabalharem juntos novamente quase duas décadas depois, na minissérie Hatfields and McCoys, produzida pela HBO.
Entretanto, tudo é uma questão de percepção, e vale acrescentar que no mundo da mídia, do jornalismo existe aquela tendência em exagerar previsões, factóides a fim de promover uma visão negativa de diversas matérias, as vezes em detrimento dos próprios fatos. Tudo em nome de fazer barulho e chamar a atenção. Resumindo: tragédia vende.
O que a maioria das notícias omite é o fato de que a Universal estava em processo de venda na época. A Seagram adquiriu 80% do estúdio enquanto o filme estava sendo finalizado. Contudo, nos termos do acordo, a Matsushuita, que era até então dona do estúdio, teria de segurar um valor de dívidas estimado em cerca de 1 bilhão de dólares, compensando diversos projetos além de Waterworld. Ao mesmo tempo, a Seagram só precisou investir 12 milhões na pós-produção do filme.
E no fim das contas, a percepção de fracasso é relativa. O filme acabou rendendo dinheiro com as sessões internacionais. No mesmo ano que Waterworld foi lançado, a Carolco foi a falência com o filme de pirataria A Ilha da Garganta Cortada, que teve 90 milhões de prejuízo. Na verdade, esse nem foi o maior fracasso de Costner. Isso viria pouco depois com o lançamento do desastroso O Carteiro.
Um filme pode ser visto como fracasso ou sucesso depende de quem estiver contando a história. Superman: O Retorno, de 2006, é um desses exemplos: um filme que lucrou bem, mas foi visto como decepção pela Warner. Aí entra a questão de expectativa de lucro, mas todos deveriam se perguntar se expectativa de lucro não se confunde com ganância ou ambição. Mas essa é uma questão mais complexa.
Em retrospecto, Waterworld tinha tudo para dar errado, mas acabou indo pra frente e conseguiu agradar a pelo menos alguma parte do público. Depois do sucesso de Dança com Lobos e Robin Hood, Costner estava em alta, então era questão de tempo até que ele desse um passo em falso e atraísse os críticos mais fervorosos ansisos para ver ele em queda. Pessoalmente, é um filme que tenho prazer em rever se estiver passando. Com excelente direção de arte, fotografia, pouquíssimos efeitos especiais feitos digitalmente, e uma trilha sonora memorável de James Newton Howard, Waterworld é diversão e entrenimento garantido.
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:04
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