Dissecando O Regresso
(5 de fev. de 2016)
Como muitos devem estar sabendo, O Regresso, o mais novo filme de Alejandro González Iñárritu está recebendo inúmeros elogios da crítica e do público, além de ser um fortíssimo candidato a dominar a premiação do Oscar neste ano.
Há diversos motivos por trás do sucesso do filme. Vamos dar uma olhada por trás desta produção.
Em primeiro lugar, falemos sobre Leonardo DiCaprio. Ninguém duvida de sua capacidade como ator, estrela e protagonista. Há muito tempo que DiCaprio mostrou do que é capaz, atuando nos filmes mais aclamados e dando tudo de si em cada papel. O rostinho bonito que atraiu o público em Titanic há quase 20 anos evoluiu e produziu obras inesquecíveis, firmando parcerias de longa data com cineastas como Scorsese.
Existe um único porém nessa análise: DiCaprio jamais levou o Oscar de Melhor Ator.
Ele já levou Globos de Ouro, SAG Awards, e diversas outras premiações. Inclusive, já fora indicado várias vezes ao Oscar pela maioria dos papéis nos últimos anos, mas sempre perdera por um fio. Vale lembrar que DiCaprio como celebridade nunca foi uma pessoa extrovertida que demonstrasse ego ou arrogância. Dá para ver que ele preza tanto a integridade e a dedicação que ser premiado seria quase secundário. Mas se pararmos para ver as performances de DiCaprio (principalmente nas que ele grita a inúmeros decibeis, 90% dos casos) dá para ver que ele deseja ser reconhecido por isso.
Será que este será o ano de DiCaprio no Oscar. Verdade seja dita, ele nadou em rios congelantes. Não consigo imaginar outro ator dando um esforço maior (a não ser que dê uma de Christian Bale e perca 40 quilos, arriscando a própria saúde, para um papel).
Vejamos outro motivo pelo qual o filme tornou-se tão conhecido. A dificuldade das filmagens.
Iñárritu decidiu filmar a história cronologicamente num período de 80 dias no Canadá, aproveitando o inverno. De acordo com relatos, a filmagem foi um verdadeiro inferno com membros da filmagem sendo despejados ou abandonando o projeto. Iñárritu supostamente barrou a entrada do produtor Jim Skotchdopole no set (este não soube conjugar as demandas da produção). Além disso, o tempo rigoroso dificultou as filmagens, e o fato delas serem feitas em cronologia com o roteiro causaram mais entraves ainda.
Resumindo, o filme sofreu atrasos gigantescos, o que acabou interrompendo as filmagens porque ao passar do prazo, a neve no Canadá derreteu.
Eles tiveram de relocar para outro país que tivesse as mesmas condições climáticas. Nesse caso, foram para a Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina. Isto, por consequência, fez com que o orçamento estourasse todos os limites estabelecidos.
Grandes produções sempre geram complicações, e estúdios de cinema toleram a maioria delas. Contudo, a tolerência some quando o assunto é dinheiro e tempo. Se fosse um diretor desconhecido desperdiçando tempo e dinheiro, já teria sido substituído. Isso mostra como depositam confiança na visão de Iñárritu.
Outro ponto fortíssimo do filme (além, óbviamente, de ter o protagonista atacado por um urso) é a magnífica direção de fotografia. Emmanuel Lubezki já é conhecido por seu trabalho em filmes como A Árvore da Vida. Inclusive já levou dois Oscars por fotografia (e deverá levar por este também).
Só que numa era em que diretores lutam pela preservação da película - dentre eles Tarantino e Christopher Nolan - Iñárritu e Lubezki mostraram que é perfeitamente possível produzir uma obra de arte audiovisual repleta de profundidade e atmosfera filmando apenas com câmeras digitais. Além disso, eles procuraram utilizar apenas luz natural durante as filmagens, abrindo mão de artifícios como refletores e lâmpadas. Além disso, eles utilizaram lentes superangulares, criando uma sensação vertiginosa. Isso, junto com a coloração fria, os ângulos promovendo a grandeza da selva, mais a direção de arte cria uma experiência congelante e inesquecível. Se você vê o filme num cinema de tela grande, você percebe tudo isso.
O Regresso encontra-se nos cinemas. Vale a experiência. Confira o trailer abaixo:
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 09:25
Muito bom texto!
Muito bom o filme também!
Falou tudo!