CRÍTICA: Rua Cloverfield, 10

(13 de abr. de 2016)



Ninguém sabia que esse filme sequer existia.


O mais surpreendente de toda essa situação é o fato de ninguém saber disso quando ele já estava literalmente prestes a ser lançado. O bom de J.J. Abrams estar tão envolvido com Star Wars é que a Bad Robot foi capaz de usar esse marketing para desviar a atenção do público que vinha esperando uma continuação para Cloverfield. O filme estava em produção há meses, e só fomos descobrir sua existência em janeiro, a menos de dois meses. Sem dúvida a campanha de marketing mais eficiente desde A Bruxa de Blair.




Agora vamos ao que interessa, e com direito a spoilers:




Este filme não era para ser uma continuação do longa de 2008. Na verdade, era para ser nada mais do que uma história de tensão dentro de um local fechado, digno de muitos suspenses no melhor estilo Além da Imaginação. Quando a Bad Robot entrou pro projeto, viu-se a oportunidade de conectar esta obra ao universo que haviam dado início em Cloverfield.


Digo tudo isso porque esse detalhe da produção está ligado diretamente ao maior problema que o filme tem: seu final.


Mas vamos por partes.


Rua Cloverfield, 10 é sem dúvida um thriller da melhor qualidade. O filme conta a história de Michelle (Mary Elizabeth Winstead), uma menina que acabara de terminar com o namorado e fugido em seu carro pela estrada. Tudo isso muda quando um outro carro bate nela. Ela acorda dias depois dentro de um bunker, mantida em cativeiro por Howard (John Goodman), um ex-militar paranóico que construiu o local e que afirma que uma guerra química contaminou o ar e dizimou a humanidade. Resta a ela acreditar na história e permanecer ali por anos ou tentar se libertar daquele aprisionamento e descobrir se tudo aquilo é realmente verdade.


John Goodman exerce uma performance impactante como Howard. John Gallagher Jr. também cria um personagem distinto (ainda mais se comparar ao que o ator já fez). A direção de Dan Trachtenberg consegue manter o espectador apreensivo durante o filme inteiro, sempre seguindo o roteiro impecável de Josh Campbell, Matthew Stuecken e Damien Chazelle. A trilha sonora de Bear McCreary também cria uma sensação angustiante durante o longa.


Contudo, os problemas surgem no final. Pelo fato do filme ter começado como sendo um produto sem ligação ao universo de Cloverfield, fica a visível impressão de que esse final foi escrito separadamente do restante da obra. O fato do mundo ter sido atacado pelo monstro do primeiro filme, fazendo com que os militares coloquem o país em estado de alerta faz todo o sentido, e a trama de Michelle em cativeiro encaixa-se bem no contexto. Entretanto, na tentativa de apimentar o quesito ação nesse final, os roteiristas transformam a personagem numa super-heroína (digna do termo Mary Sue até mais do que a própria Rey em Star Wars). Quando a menina que era até então incapaz de lidar com os problemas diretamente e fugia sempre que possível resolve destruir pessoalmente uma nave espacial usando métodos dignos de MacGyver, digamos apenas que isso arruina todo o clima de suspense que o longa vinha gerando nos últimos 90 minutos. O roteiro transforma uma protagonista verossímil em algo completamente diferente. A evolução dela como personagem deixa de natural dessa forma.


Esse pra mim é o problema principal do filme. Mas fora isso, recomendo com louvores essa continuação de Cloverfield. E mesmo se não fosse, é uma excelente história de terror e suspense. Mesmo com os problemas do final, difícil que alguém saia desapontado desta sessão.





Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 12:20  

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