Muitos já devem ter assistido ou ao menos ouvido falar de The Crown, série sobre a realeza britânica exibida no Netflix. A série ganhou bastante destaque por sua qualidade de produção em suas duas temporadas.


O que ninguém esperava era que a Rainha Elizabeth ganhasse menos que o Príncipe Philip.


Resumindo: foi revelado num painel com os produtores do seriado que o ator Matt Smith, intérprete do príncipe consorte, ganha um salário superior ao da atriz Claire Foy, que interpreta a Rainha da Inglaterra.


Os produtores alegam que um dos motivos pelo salário superior de Smith seria o fato dele já ter fama dentre o público britânico, decorrente de sua participação no seriado Dr. Who, e que seu agente teria negociado seu cachê com base nesse dado.


O problema é que isso não muda o fato da protagonista da trama ser interpretada por uma excelente atriz que ganha menos que o coadjuvante. E não dá para negar que é mais um caso dentre muitos de puro machismo institucional, emblemático da desigualdade que perdura em tantas instituições e indústrias. Se as indústrias do cinema e da TV desejam ser portais de inclusão e diversidade, cada pessoa deve ser compensada o equivalente a seu valor, principalmente levando em conta o esforço que cada uma dá. Se a história de The Crown aborda a importância da Rainha da Inglaterra, como ela liderou uma nação, e não conseguem ao menos refletir isso na folha de pagamento, então há algo de podre no reino.


Se Matt Smith custa tanto assim, era melhor nem tê-lo contratado para interpretar Philip. Melhor investir num ator mais modesto. Ou então, se Smith é indispensável, deveriam ter contratado Foy pelo dobro.


Há aqueles que argumentarão que era responsabilidade dela e do agente negociarem um cachê melhor. Aí eu lanço a seguinte pergunta:


Se Claire Foy faz isso, o que impede os produtores e o estúdio de tacharem ela como problemática e seguirem com uma atriz mais barata e menos exigente?


Não há como negar. O alto escalão de Hollywood é dominado por homens. Homens brancos, muitos deles de meia-idade, desatualizados e incapazes de enxergar os ventos de mudança relacionados a questões políticas e sociais. Nesse clima político atual, não dá para simplesmente varrer isso para debaixo do tapete.


Como a trama deverá pular vários anos na próxima temporada, nem Foy tampouco Smith retornarão a seus papéis, que serão reescalados com atores mais velhos. Mesmo que se resolva essa desigualdade salarial, Foy já ficou lesada.


É uma situação injusta, de qualquer forma que se enxergue.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:04  

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