A Disney abocanhando o mercado
(22 de mar. de 2019)
Todos já devem estar sabendo que a Disney concretizou a compra da 20th Century Fox. A aquisição do estúdio permite que o estúdio do camundongo tenha controle de toda* a propriedade intelectual da Fox, que inclui inúmeros clássicos (Esqueceram de Mim, Os Simpsons, Planeta dos Macacos, dentre outros).
*A única parte que se mantém sob o controle de Rupert Murdoch é a Fox News, o braço de jornalismo do antigo conglomerado com viés de extrema-direita, pró-Trump.
Por um lado, muitos podem achar que é motivo pra comemoração. Afinal, os filmes dos X-Men e Quarteto Fantástico faziam parte da Fox, não tendo nenhuma ligação com o Universo Marvel. Agora seria possível unificar os dois universos de super-heróis (já que a Disney é dona do Marvel Studios desde 2012).
Pessoalmente, questiono muito essa consolidação. Se tem um aspecto que considero essencial no cinema, sem dúvida que é sua versatilidade. A capacidade de fazer qualquer tipo de filme, de qualquer gênero, desde o pequeno projeto experimental independente até o maior blockbuster. Variedade é essencial.
Consolidar e monopolizar o mercado é a antítese dessa tendência. O que a Disney faz é reduzir o número de empresas concorrentes, enquanto aumenta sua presença e alcance. E por mais que comprar uma empresa signifique que alguém saiu lucrando, esse alguém já era bem abastado.
Enquanto isso, foi revelado que 4000 funcionários perderam seus empregos. Isso ocorreu porque a Disney se livrou da Fox 2000, o braço de filmes independentes do estúdio. Enquanto os gigantes brincam de consolidação e monopólio, o trabalhador comum sofre as consequências.
É possível que a Disney mantenha a entidade operando independente? Talvez, até certo ponto. Sabe-se que a Marvel opera com uma certa autonomia, enquanto que a Disney lida mais com distribuição. Mas sendo um estúdio dedicado a adaptações de quadrinhos sobre super-heróis, talvez não seja o melhor exemplo.
Outro exemplo mais contundente seria a Lucasfilm. Desde sua aquisição em 2012, a empresa, que era de George Lucas, se dedica a produzir filmes de Star Wars num ritmo anual (e industrial). E a qualidade dos filmes, repleta de altos e baixos, tem sido motivo pra debate dentre os fãs e espectadores. Existem histórias de refilmagens, além do número altíssimo de diretores sendo trocados, e milhões sendo gastos. Fica a impressão de que rola muita interferência pesada por parte do estúdio, no interesse de manter o padrão da marca, mas que acaba minando o aspecto criativo e artesanal que guiava os filmes quando ainda eram feitos sob a direção de Lucas.
E agora que a Disney controla a Fox, a probabilidade de redução de lançamentos é ainda maior. Nos últimos anos, a quantidade de filmes tem caído, a medida que estúdios têm priorizado menos lançamentos, com produções mais caras. Com menos um estúdio no mercado, essa é a tendência. Ao mesmo tempo, as produções do estúdio que já existiam vão ter de existir dentro de um novo contexto, uma nova direção. Com certeza a presença da Disney irá mudar a identidade das obras que pertenciam a Fox.
Resumindo, menos variedade, menos criatividade, menos espontaneidade, artistas menos satisfeiros, e um público mais cético. Vemos a Disney tomando o mercado, gerando uma indústria com menos filmes, e aqueles que permanecem aderem ainda mais ao padrão mega-blockbuster com intenções mais comerciais que artísticas, deixando ainda menos espaço para produções menores. Ninguém sai ganhando com isso a não ser aqueles que só pensam no lucro e nada além.
Se um filme se resume a uma máquina de ganhar dinheiro, por que alguém se importaria em contar uma boa história? Esse é o futuro mais provável a nossa frente graças a essa aquisição. Isso é uma perda para o cinema. Espero estar errado....
Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 11:56
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