Rick Baker, vencedor de sete Oscars por seu trabalho em maquiagem e efeitos visuais em inúmeros filmes, anunciou sua aposentadoria aos 64 anos de idade.




Em uma entrevista a rádio norte-americana KPCC, ele explicou o porque: "A hora é agora. Tenho 64 anos de idade e a indústria cinematográfica está 'louca' no momento. Eu gosto de fazer as coisas da maneira certa e eles [os produtores de Hollywood] querem efeitos baratos e rápidos. Isso não é o que eu tenho vontade de fazer, então cheguei a conclusão que é hora de sair".



Como podemos ver, Baker é um artista com 40 anos de carreira numa situação onde seus talentos vem sendo subaproveitados. Desde a revolução digital nos últimos 30 anos que Hollywood vem menosprezando o esforço de designers como ele.


Com os custos exorbitantes de produções blockbusters, fica cada vez mais difícil realizar certos efeitos de forma prática e artesanal. Design e produção de elementos com aspectos minuciosos tais como maquiagem requer tempo e investimento. Ao mesmo tempo, a maioria dos filmes dão início a suas produções com data de estreia já marcada, o que limita muito a todos envolvidos, já que não há espaço para cometer erros ou repensar conceitos no meio do caminho de qualquer etapa de desenvolvimento. Não há como tentar ser espontâneo ou tentar criar do nada. Um artista fica preso a um padrão industrial rígido.


Baker vem da mesma linha de pioneiros como Ray Harryhausen, o designer do King Kong original. A ausência dessa mão de obra faz com que efeitos visuais percam um pouco dessa originalidade e fiquem um pouco mais artificiais, já que estúdios não estão dispostos a arcar com o investimento necessário.


Também não se pode culpar a dependência que Hollywood vem fazendo do uso de computação gráfica. Ambas são formas legítimas de arte e expressão que merecem todo o aprecio e dedicação que se pode dar. Filmes fantasiosos como Star Wars não seriam possíveis se não existisse esse campo digital.


Mas mesmo George Lucas sempre deu valor a talento como Baker (que inclusive trabalhou no filme original de 1977). Já a mentalidade financeira que domina Hollywood não pensa da mesma forma.


E isso é uma falência completa de visão e imaginação. Não faz tanto tempo que vimos o potencial e o primor visual que artistas como ele podem trazer para as telas quando vimos O Senhor dos Anéis nos cinemas. O filme foi todo realizado pela WETA Workshop, uma empresa neo-zelandesa formada por Richard Taylor, que teve todo o tempo do mundo e inúmeros artistas para realizar a visão que Peter Jackson queria adaptar dos livros de Tolkien. Felizmente, a WETA ainda existe e ainda presta serviços para filmes hollywoodianos. A questão é se eles conseguem se adaptar as demandas cronológicas deles.


É óbvio que cronogramas tem de ser respeitados, afinal uma boa produção é feita por profissionalismo e dedicação, e é óbvio que o filme deve ganhar dinheiro, afinal foi-se feito o investimento. Mas tem de se ter paixão e respeito pela forma como artistas trabalham. Tem de se pensar no filme como uma obra que merece ser vista e apreciada, ao invés de feita apenas exclusivamente pensando em franquias e formas de se maximiar o potencial de venda e lucro. Isso apenas reduz o apelo do filme.


Isso leva a pensar até que ponto essa situação pode ser sustentada. Não faz muito tempo que Lucas e Spielberg deram uma palestra falando da forma como o modelo hollywoodiano tinha data de esgotamento definida (e não foi a toa que Lucas vendeu a Lucasfilm logo em seguida).


Seria uma pena se isso se perdesse por completo.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 13:13  

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