Com a estreia de Jornada nas Estrelas: Sem Fronteiras se aproximando, continuamos revendo a história de toda a franquia, a medida que o aniversário de 50 anos também se aproxima. Hoje reveremos o primeiro filme lançado nos cinemas.


Com exceção da série animada e das reprises da série originalJornada nas Estrelas permaneceu dormente durante a década de 1970. Os fãs pediam a volta de Kirk e Spock e as aventuras da Enterprise. A Paramount sabia que tinha potencial de lucro. Era inevitável que a série iria para o cinema.


Contudo, não foi uma jornada tão simples. Houveram várias tentativas de criar um roteiro que agradasse ao estúdio durante os anos 70. Gene Roddenberry escreveu um deles. Na época, ele passava por sérias dificuldades financeiras após não conseguir vender pilotos de seriados. Ele e sua esposa Majel Barrett viviam principalmente das convenções de Jornada organizadas por fãs, onde vendiam ou leiloavam artefatos do seriado.


A Paramount, contudo, abandonou os planos de uma adaptação cinematográfica e tentou algo inédito. Criar uma nova série de Star Trek, reunindo todo o elenco original para uma nova missão de cinco anos no espaço. A série se chamaria Star Trek: Phase II. A Paramount aprovou a bíblia organizada por Roddenberry e encomendou roteiros. Roddenberry, junto com o produtor Harold Livingston começaram a organizar esboços e trabalhar com roteiristas, alguns deles veteranos de Jornada.

Um dos entraves na produção era a ausência de Leonard Nimoy, que queria se afastar de Spock e sua fama. A solução foi criar um novo personagem vulcano chamado Xon, interpretado por David Gatreaux. Já Stephen Collins foi contratado como o novo primeiro-oficial subordinado de Kirk e co-protagonista do seriado. Estava tudo acertado para que Jornada voltasse a TV em breve....


....contudo, o sucesso de Star Wars e Contatos Imediatos do Terceiro Grau, em 1977, fizeram com que a Paramount mudasse seus planos da noite para o dia. O episódio-piloto da série foi reformulado para se tornar o primeiro longa-metragem lançado para o cinema. E a Paramount já havia marcado uma data de lançamento: dezembro de 1979!


Resumindo: era janeiro de 1978. Eles tinham menos de dois anos para completar um filme que tinha a enorme responsabilidade de trazer a franquia de volta e satisfazer as expectativas dos fãs.


A produção do filme foi extremamente conturbada. Roddenberry, como produtor do longa, travou brigas ferozes sobre a direção do roteiro com Harold Livingston. Eram tantas versões que acabaram por arrastar as filmagens de forma interminável. Coube ao lendário diretor Robert Wise (A Noviça Rebelde) manter a produção rolando com o máximo de competência.


Como muitos devem lembrar, a trama lidava com a volta de Kirk a Enterprise cuja missão era deter uma entidade alienígena que caminhava em direção à Terra, destruindo tudo em seu caminho. E que na jornada, descobririam que a entidade era a sonda espacial Voyager 6, que havia adquirido consciência após cair num buraco-negro e ser resgatada por uma raça de máquinas sentientes.


O roteiro tinha problemas. Ausência de conflito entre os protagonistas e tentativas de estender a trama (lembrando que era para ser um piloto de 50 minutos para a TV). Se você ver o filme hoje, percebe um certo nível de linguiça presente no meio da história. Toda a sequência em que a Enterprise viaja através da nuvem protetora e sobrevoa a nave alienígena se resume aos efeitos visuais e tomadas de reação dos personagens à bordo da nave.


Em defesa do filme, acho essa sequência sensacional, com um ar de mistério, e bastante representativa da época em que foi feita. Era a década de 1970. Se há um filme que se assemelha ao primeiro Jornada é 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Longas tomadas e questões abstratas que vão aos limites da ficção científica. Inclusive, os efeitos visuais foram produzidos pelo mesmo designer: Douglas Trumbull. Foi seu expertise e a direção de Robert Wise que deram ao primeiro filme de Jornada sua identidade marcante.


Houve remendos no roteiro. Um dos mais bem sucedidos foi a reinclusão de Spock na trama. Ao ligar a jornada solitária de V'Ger ao conflito interno de Spock, fazendo da busca pela humanidade além da lógica um tema central do filme. O único problema dessa escolha narrativa é que Kirk ficou bastante passivo na trama. Sua jornada se resume a tentativa de recuperar a Enterprise para si só, em detrimento da carreira de Decker. Não há aquele foco no trio tradicional Kirk/Spock/McCoy que a série tinha.


Há quem diga que Jornada funcione melhor na TV do que no cinema, e há fãs que considerem este filme ambicioso demais para o padrão estabelecido em 1966. A série era tosca, divertida e até cômica, limitada por seu orçamento e ritmo de produção televisivo. O filme realmente passa longe disso. Ele é o que Jornada seria se tivesse o orçamento e a tecnologia de 1979. Foi também o filme mais caro da época, custando 45 milhões de dólares*. Nem O Império Contra-Ataca, lançado meses depois, conseguiu custar tanto.


*Vale mencionar que este custo é na verdade uma inflação enganosa, pois a Paramount inseriu os custos de todas as tentativas de ressuscitar Jornada no preço do filme, incluindo Phase II.


De qualquer forma, mesmo com a crítica dividida, o filme foi um sucesso estrondoso de bilheteria. Não só lucrou, como mostrou a Paramount que eles tinham uma franquia garantida nas mãos. Com o dinheiro entrando, a Paramount começou a organizar o futuro de Jornada nas Estrelas, prontos para reunir o elenco a bordo da Enterprise mais uma vez nos cinemas.


E essa seria uma jornada igualmente complicada, repleta de problemas e oportunidades....


Até lá fique com uma sequência do filme, logo abaixo. É a cena em que Kirk e Scotty vêem pela primeira vez a Enterprise restaurada. A sequência, por mais longa que seja, funciona principalmente graças a trilha inesquecível composta pelo já falecido Jerry Goldsmith. É 1979, mas é uma obra de arte que fala por si só, quase ausente de diálogos.



Posted in Postado por Eduardo Jencarelli às 12:39  

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